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Ensaio Reticom

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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Põe seu cabresto porque a roda é gigante

Quero escrever às pessoas que se julgam de bem, honestas e direitas e que discursam bordões como "Bandido bom é bandido morto" ou "Direitos Humanos a humanos direitos" e outras concepções de cabresto.
Quero também esclarecer ao meu próprio discurso, que pobreza não está relacionado com criminalidade ou vice versa. E convido aos que sentirem-se contemplados de alguma forma, à um estudo profundo sobre nossa história. Historicidade humana, história das civilizações, colonizações e tudo que estrutura o que temos e o que somos hoje. Pois quando olhamos pra trás entendemos o presente, e estando presente de maneira consciente, podemos criar o futuro.

Tais discursos partem de pessoas que acreditam ser boas, do bem e livres. Gozam de empregos cujo salários lhes pagam carros, casas, consumo e diversão. Sentem-se violentados quando agredidos por outro, que com arma, violência psicológica ou física, lhe arrancam um produto que custou-lhe tão caro.
Não. Ninguém tem o direito de arrancar nada de ninguém. Ninguém tem o direito de agredir ninguém.
Vejo apelos referente a maioridade penal, àqueles jovens que são capazes de roubar, agredir, estuprar, matar, que devem ser tratados como um adulto delinquente que rouba, agride, estupra e mata.

Não é a pobreza material que leva alguém a cometer tamanhas barbáries. Vemos com tamanha constância a criminalidade invadir famílias nobres, de rendas gordas. Por dinheiro, por ciúme, por desespero...

Não sei, não posso saber, não me cabe saber os motivos que levam alguém a cometer tanta violência para com o próximo. Mas sei que isso, toda esta barbaridade não se trata de fato isolado, de fato único. E me faz pensar se há a algo que não permita a formação íntegra das pessoas que as cometem. Quantas pessoas, nascem de fato, com tamanha perversidade? Quantas foram ou são crianças malignas, que torturam animais, que provocam brigas e desavenças? Penso que em algum momento da vida isto é brotado no ser.

Impossível avaliar casos de pessoas que não conheço. Amplio então, meu olhar a uma sociedade que exige e impõe regras bruscas e que, se não seguidas, as consequências são piores. Somos adestrados a termos comportamentos semelhantes. Estudamos para entrar numa roda gigante que de tão grande, não nos permite ver quem a controla. E não se pode descer, exceto se arriscar pular. Mas há tanta gente nesta roda gigante! Uns sentados, tranquilos. Outros tentando sentar, se capacitando. Outros pendurados nas grades, também tentando sentar. Mas há aqueles que nem sabem porque estão lá! Por que rodam rodam, sem sair do lugar? Por que não se pode escolher outro brinquedo? Por que não se pode rodar no chão? Por que esta roda, acelera e não pára para que as pessoas que não querem brincar, saiam e dê espaço aos que creem nesta roda? E nem aos que aceitam estar na grade, nos ferro, podem se adaptar por lá! Não pode!! Atrapalha o rodar!

As cadeiras não estão aqui como conforto material, mas de conforto mental e tranquilidade de vida. Numa roda onde todos querem e deveriam poder gozar da mesma tranquilidade. Sem risco de cair.
Na sociedade, me refiro às pessoas que não se adaptam às regras impostas, se perdem num buraco fundo nelas mesmas, cavado cada vez mais por aqueles que, confortáveis, se incomodam com as perguntas. Os confortáveis têm medo da mudança, então optam por tirar de suas vistas as dúvidas e as ausências de respostas que podem provocar tamanha indignação aos outros que equilibram a roda. Deixam tudo como está e retiram de alguma forma, de qualquer forma, aqueles que não se adaptam. Mesmo que os joguem lá do alto! E tudo ainda vem com cobrança: "Por que não se adapta? É vagabundo? Luta pela tua cadeira!!" Se orgulha: "Eu trepei ferro a ferro até chegar aqui!" Fica, aos que se cavam, a dúvida do tempo que se perde, das escolham que se faz, o medo de não conseguir, o desespero por não ser. Por não fazer parte.
Não há espaço aos que precisam se entender, se buscar, para refletir se quer rodar! Somos obrigados a rodar! Somos obrigados a lutar por uma cadeira, para que possamos envelhecer sentados e em segurança. E nos cabe defender esta cadeira aos nossos próximos, e pra isso fechar os olhos aos que não aguentam mais trepar em ferro. Fechar os ouvidos para as perguntas de quem têm dúvida e para os gritos dos que caem. Cruzar os braços para não pôr um estranho em seu espaço. Deveriam ao menos, fechar também a boca! Para que engulam suas omissões, seus preços e não cobrem do outro aquilo que se quer brota no seu peito.

É um ato de desespero pedir para matar àquele que afetou tua integridade.
Falta atos de compaixão para entender se a integridade do outro não fora afetada para que ele chegue ao ponto de querer-te morto.
Falta empatia para entender porque um objeto, hoje, vale mais que uma vida. E vale mais que a vida de quem morre, e mais que a vida de quem mata.
Falta senso para perceber que, se outro está doente, você nunca terá paz. Pois dividimos o mesmo espaço, o mesmo ar, a mesma água...

Se criou objetivos de vida que não são verdadeiros nas vidas de todos.
Se criou a obrigatoriedade de aceitá-los. A consequência de nos permitir questionar, entender.
Não temos escolhas, e aos que se perdem entre a dúvida do que ser, numa sociedade que ninguém é, cabe a exclusão para não atrapalhar aqueles que aceitam ser o que tanto trabalha para ter.

Falta ser humano ao bicho homem.