Páginas

Ensaio Reticom

Ensaio Reticom

terça-feira, 19 de maio de 2015

O que há em mim frente ao mundo?

Que dor me cabe frente ao homem que carrega feito caracol, o peso das latas e do papelão?
Que lágrimas me excedem frente à mulher que carrega seus filhos, um no ventre, uma nas costas e outro na mão?
Que cansaço me pesa frente à quem madruga pra fazer comida, ir ao emprego e morrer na condução?
Que desespero me cabe, frente à realidade de quem vende, come e dorme no que acha no chão?
Que apego devo ter na matéria descartável, que me proporciona prazer, originado e resultante da mais sádica produção?
Qual verdade prevalece entre nosso tamanho no universo e nossa tão vazia imensidão?

sábado, 16 de maio de 2015

Soneto para outra perspectiva sobre amor

O amor opositor ao egoísmo
O amor que não possui.
Posse que leva ao abismo
Silencia o sentimento que rui.

Amor não se limita em quartos,
Não respeita molduras, não o retém.
Não se abafa sob telhados.
Se for assim, não é de ninguém.

Amor habita no autorrespeito
No diferente que nos tira do lugar
No outro, ser inteiro por direito.

Amor só brota na soltura
Só habita em que se arriscar
A voar a partir de certa altura.

O que me filtra

O que me filtra do ódio dos homens e
Me purifica da ganância da matéria:
O voo livre do pássaro que sobrevive;
A esperança na luta que ainda vive!
O trabalho árduo da formiga não pisada;
A gosma da lesma verde já passada;
O ferrão da abelha na lágrima derramada.
O verde no asfalto rompido;
O cachorro no passeio contido;
A descoberta nos olhos do oprimido;
O valor das instituições corrompido.
O sorriso depois do gozo descoberto;
O acesso ao amor encoberto,
pela ira da ganância dos homens.