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Ensaio Reticom

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terça-feira, 3 de setembro de 2013

infantilizando um simples saber

Seguimos atentos pensando saber
que sabemos o bem pra quem bem entender.
Andamos calados e bem comportados
Aceitando acatados pra se bem conviver.
Fechamos os olhos dormindo acordados
Pra violência no outro não interromper
Nossa vida vendida a preço barato
Que nos obrigaram pra sobreviver.

Garantimos a paz negando aos demais
o direito mais simples. O de se viver!
Viver é acordar, comer e amar
Sem ter preço ou ter hora pra se respeitar.
É entender seu lugar, a empatia guiar
O outro acolher pra se completar
É deixar-se guiar por sorriso e olhar
E não tentar entender, aceitar, explicar
o sofrimento do outro, se justificar.

É tudo tão simples e mais fácil
se ouvirmos a voz do nosso próprio rádio.
Apoia o ouvido sobre seu braço
E respeite aquele que enlaça o abraço.
Receba do corpo a energia do outro
Que traz o sentido mais caro que ouro.

Assim aprendemos que o bem a saber
Nasce do outro e vem de você.
Não se aprende na escola, na rua ou na tv
se nos olhos do outro se negar a ver
que carrega em você a dor que no outro
você finge não ver.





Perguntas sem vírgulas

O que é normal nesta vida de tentativas frustradas de se viver no tempo que vendemos para ter coisas que não teremos tempo de usufruir? Nesta vida onde doamos nossa saúde à produção de bens que não nos pertence? Na tentativa de nos completarmos com bens que não fazem parte das necessidades básicas? As mesmas que atropelamos e fingimos não ser importantes para que possamos nos adaptar às exigências daqueles que compram nosso tempo e se apropriam de nossa saúde para adquirirem meios de inventarem novas necessidades? Ou ainda, as mesmas necessidades que atropelamos pelas faltas de condições básicas de sobrevivência em sociedade, onde insistimos em viver, suportar, aceitar.... Por algum motivo maior que nossa própria limitação física e psicológica?
Como pode ser normal eu estar no conforto do meu sofá, abrigada do frio e da chuva enquanto crianças trabalham 15 horas em fábricas ou morrem de desnutrição? Pensar que há pessoas em SP que morrem de frio, no centro da cidade, e são notadas desfalecidas após dias sob coberturas sutis de qualquer coisa que lhe escondam o corpo, o rosto, o ser que definha na capital mais rica de um dos países mais fartos do mundo, e eu acreditar que a culpa não é minha? Em nada? Não está nos produtos que consumo? No que chamo de comida? No que acredito ser entretenimento? Na minha ausência nas políticas públicas? Que escolha tenho frente ao muro colorido e farto que me tapa a injustiça e me propõe conforto, paz e beleza na próxima compra? E que me garante o direito de ter uma família, casa e filhos sem que me alerte o preço de tal felicidade? E quando me conforto na impossibilidade de mudar o mundo e sigo com minhas escolhas mesquinhas e hipócritas para aliviar a culpa que sinto por ter nascido num esquema pronto de projeções de culpa por meio da palavra de deus? E aceito que os representantes diretos, de deus e do povo, possam gozar de seus bens inúteis enquanto ainda há fome num planeta farto de vida? Que lugar é esse que nos tira qualquer opção de escolha e nos faz acreditar na liberdade de expressão, na democracia, nos direitos de vida e enquanto enxugo gelo acreditando no que o próprio sistema cria para que possamos prosseguir? E eu me perco em palavras, sentimentos e tento focar meu trabalho onde vejo possibilidades de mudança, enquanto a internet pulveriza minha indignação em palavras soltas num universo fictício que move este jogo perverso de crenças manipuladas, frias e sanguinárias movido por pessoas preocupadas com seus próximos status, carros, namoros e bens...?