Virá uma geração de comunistas e anarquistas que resistirão aos impulsos sociais de instituir família sob uma relação monogâmica;
Virá uma geração que buscará a revolução dentro de sua própria realidade, buscando reestruturar as relações familiares a partir da empatia e da alteridade, como se deve ter com qualquer outro ser vivo;
Virá uma geração que entenderá que deus está nas manifestações do oprimido, no silêncio dos assassinados, e que paga penitência sob os chicotes de quem tem fé;
Virá uma geração filha da alienação e do egoísmo, que não mais acreditará no amor instantâneo, genético, de rótulos, produto pronto;
Virá uma geração que compreenderá a importância do outro na preservação da vida, do riso, do prazer e assim, conhecerá o amor e a liberdade;
Virá uma geração que entenderá a dor como passagem e como alarme para compreensões maiores, e anulará assim o sofrimento;
Virá uma geração que só conseguirá usufruir do trabalho presente, de produções compostas por seu próprio sangue e suor, negando produtos cujo trabalho não se viveu;
Virá uma geração que descobrirá o prazer ao calar o individualismo;
Virá uma geração que viverá a diversidade como cultura e o compartilhar como sociedade;
Virá uma geração que aceitará como teto apenas as estrelas e como alimento apenas o que brota;
Virá uma geração que louvará mais a terra que o céu, mais a vida que os santos;
Virá!
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Água Corrente
Seu olhar
apaixonado buscava o céu e se deparava com concretos cinzas, de uma imensidão
material que condena, sem disfarces, qualquer relação com o subjetivo. Ainda
assim, era possível sorrir. O que lhe tomava por dentro foi construído com
aquele olhar vivo e negro em meio aos zumbis programados das metrópoles; aquela
leitura ousada ao pé do ouvido, mesclada ainda, em outro espaço de tempo, com
alguma reza cabocla cuja sonoridade lhe fazia contorcer as pernas, mesmo sem
entender o significado das palavras. Aquelas vogais na voz rouca... E a barba.
As barbas que já lhe roçaram o rosto, num misto de cócegas e prazer, que faziam
um riso contido se perder num gemido solto... Sons agudos que lhe traziam à
mente as peles finas dos pescoços femininos que seus lábios já tocaram.
Com as mãos plenas
de sabão, se percebera apaixonada pela vida que lhe encontrava. Que lhe
confrontava nos caminhos cotidianos quando as coisas pareciam perder o sentido.
Lá estava a vida, com todo seu ar que envolve e abraça o corpo que se entende
sem rumo, apoiado nas razões alheias, empurrado pelas urgências terceiras.
Sentia que seu valor de vida estava nas manifestações das vidas que
mostravam-se únicas, quando enxergavam-se ímpares frente ao todo. Excitava a
percepção do outro se perceber único entre sete bilhões de seres humanos. Era
isso que a encantava!
Sorriu de novo ao
lembrar das mãos enrugadas das mulheres grandiosas, que reconheciam em sua mão,
pequena e fina, a ausência do trabalho na terra, da colheita, da enxada. Que
viam em seu corpo a escolha em não ser o corpo dos outros, seja como esposa,
seja como mãe. Olhares fundos cujas cataratas exibiam a força das quedas, das
águas, dos úteros, o sagrado das mulheres. Uma gota de água lhe escapou aos
olhos... Como eram sacras e violadas as vidas das mulheres...
O quanto demora
uma enxurrada, ao debruçar-se na terra seca, árida e morta, para fazer-lhe
brotar de novo? Para curar as rachaduras das exigências, dos maus tratos? Que
se soltem as mulheres! É preciso cachoeiras que hidrate a terra explorada, e só
com esta união haverá sementes e brotos novos... Eis nesta analogia a liberdade
que gozas! Mesmo como um fio de água em queda livre, as pedras, musgos, plantas
e secas que estruturam seu caminho, te fazem água corrente.
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