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Ensaio Reticom

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Ausência da religião e a imensidão da fé

Não, não tenho religião.
Não achei nenhum templo que louvasse o valores que cultivo
Não achei nenhum padre, bispo ou sacerdote que respeitasse a vida como eu julgo.
Não achei nenhum espaço que acolhesse quem realmente necessita e pessoas que dissessem "Não" ao dinheiro, entre escolhas maiores.

Não creio em deuses vingativos, homofóbicos, sexistas ou sanguinários.
Não me fez bem acreditar num velho julgador me olhando por cima, me apontando o dedo por ser feliz comigo mesma.
Não me guiam palavras invocadas por exploradores.
Não me acertam invocações de respostas imediatas, sem o caminho árduo do autoconhecimento, da empatia e da paciência.
Não creio na superioridade humana, não creio que consiga comprar em espaço no céu e não creio que posso bancar igrejas se mal consigo manter minha casa, contas e família.
Não posso entrar feliz num palácio que fecha as portas à quem tem fome e frio.

Acredito que as pessoas estão aqui para crescimento pessoal.
Acredito que os outros animais nos ensinam com olhar, comportamento e lealdade.
Acredito que o desafio é viver neste mundo de matéria criada, de vidas compradas, de dores esquecidas
sem perder o amor que vem de dentro. Pois quando brota o amor por si mesmo, você se percebe atrelado, como numa rede invisível, à todos os seres que compartilham desta terra. E cada nó desta rede afeta seu desenvolvimento, logo não é possível uma evolução plena e íntegra. Passa a ser sua responsabilidade o bem estar do próximo. Passa a te afetar as dores e as escolhas do outro.

Acredito que a vida é muito mais simples do que esta inventada pelo homem.
Sou invadida diariamente por forças extremas de vida que me tocam por meio das folhas, do vento, da água, do calor do sol... E há em mim um sentimento de gratidão que não há o que retribua, exceto ser uma pessoa melhor à este mundo que me acolhe.

Não tenho religião. Tenho algo muito maior ao fazer parte deste universo todo.
Meus Deuses não me ameaçam, não me julgam, não me condenam, não me cobram...
Meus Deuses me acolhem, me alimentam, me sustentam, me mostram...
Meus Deuses dançam e bebem. Porque ser feliz não é pecado!

Pecado é deixar-se guiar por aqueles não se importam com sua vida!
Pecado é deixar de amar por medo de sofrer
Pecado é querer comprar a garantia de ser feliz no futuro.
Pecado é não abrir seu presente.
Pecado é não viver aqui da melhor maneira que você acredita para ser feliz.
Pecado é não se ouvir, não se tocar, não se conhecer
Pecado é não sentir, é ignorar o que te pulsa. É dizer que não sabe dançar...
Não saber dançar é como não saber dormir!
Pecado é não VIVER!!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vomitada Verde e Amarelo

"Em menos de sete horas, mais de 10 mil pessoas se cadastraram no programa Brasil Voluntário"

Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/em-apenas-sete-horas-mais-de-10-mil-pessoas-se-cadastraram-no-brasil-voluntario

O que há de errado comigo para uma notícia como esta me irritar tanto? Por que assistir campanha do governo solicitando trabalhadores para prestar serviços, de forma voluntária, para a Copa, me deixa tão perplexa??
Por que, há quase dois meses, eu aguardo formação de grupo (12 pessoas) para um curso de Alfabetização para Jovens e Adultos, de graça no Instituto Paulo Freire, e não há educadores interessados??
Por que a África morre de fome e doenças erradicadas desde que eu nasci e uma fortuna é investida em entretenimento barato e vulgar?
Como, da Copa no Brasil eu cheguei na África faminta??

Itaquera, uma das regiões periféricas mais pobres da cidade, foi escolhida para a abertura da Copa, na casa do time que carrega a maior torcida de SP ou do Brasil, sei lá (acho que perde em números para o Flamengo). Há então, um investimento significativo na região e desapropriação de milhares de famílias... Escolhem, no Rio, o Museu do Índio para um ótimo e amplo estacionamento. Quem liga?? Índio vai virar lenda para as próximas gerações. Enquanto desenrola toda uma estrutura para a Copa, nossas matas e índios nativos são devastados por outros interesses econômicos. Milhares de abaixo assinados vêm parar na minha caixa de email... adianta?? Mesmo??

Enquanto isso, a população brasileira morre afogada nas chuvas que, sempre, sempre é maior do que o previsto, todo ano!! Subgrupos se acumulam nas praças ou nos eventos on line para gritarem contra outro aumento da passagem de ônibus ou contra políticos acusados adquirirem novos cargos públicos ou contra a imprensa de manipula a cabeça das pessoas. Veículos criticados são líderes de consumo!! (Claro... estes mesmos cidadãos, consumidores, leitores e espectadores, que devem se candidatar a trabalhar de graça para um governo vagabundo numa copa sem nenhum cabimento moral!)
Os que protestam de alguma forma, são jovens, filhos da ditadura que tentam fazer a diferença sem saber como... Não sabemos como chegar onde queremos chegar. Não temos um inimigo à combater... temos partículas do mal em todo o ar. Lutamos contra quem? Contra o que?? Contra o capitalismo soa tão utópico, quase juvenil...

Vou chegar na África...
Vender tudo e largar a família para ir ao outro lado do globo assistir à um jogo de futebol, é traduzido como amor, loucura, paixão... bons adjetivos! Largar tudo e tentar ajudar uma alma que seja na África ou nas comunidades ribeirinhas brasileiras, sem qualquer subsídio do governo é insanidade, viagem, loucura em contextos negativos. Não ter emprego fixo é arriscar muito... nossa! Que loucura! Se arrastar todos os dias para algo que não é natural, quissá saudável, em um ambiente hostil e competitivo é a ordem. Loucura é sair de casa e virar andarilho, sem ter garantias do que comer, do que vestir, onde dormir... É supernormal trocar os dias, vender a vida em parcelas que garantam um bom restaurante, uma cama quente e roupas de marca... Não crítico a loucura, gosto e valores de cada um. Mas lembremos que nossas escolham geram consequências que envolvem outras pessoas.

Estes 10 mil voluntários certamente reclamam de um governo sedento e injusto atuante no Brasil. Pagam, por ano, quatro meses de trabalho, direto nas mãos do governo. Mesmo assim se voluntariam para servir turistas na copa... Lembro quando o Bush filho veio visitar o Brasil e um grande tapume fora levantado diante as favelas, para que a pobreza não fosse vista.

A verdade é que um grande tapume fora levantado nas extremidades de nossos olhos. Não conseguimos enxergar a África... Não conseguimos mais nos chocar com a violência da polícia invadindo barracos e expulsando pessoas de lá... Já aceitamos viver em barracos, ao lado de córregos imundos. Já aceitamos ter que pagar por tudo que nos é de direito constitucional (saúde, educação, moradia e alimentação). Já aceitamos pegar três caras conduções por um emprego qualquer que pague ao governo o que ele nos deve!
Aceitamos tudo sorrindo, sambando, bebendo... E agora, por que não? Sejamos voluntário em um evento que movimenta milhões de reais para o entretenimento gringo, burguês!

Preciso de 10 pessoas interessadas em aprender a alfabetizar adultos, para fechar um grupo. De graça!! No Instituto Paulo Freire!!! Sabem quem foi Paulo Freire???

A África não me passa!! Não consigo entender, aceitar... Vivemos numa educação que acatou aos Holocausto! Acata até hoje...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Movimentos e palavras anexos

Não há nada como a possibilidade de se acessar. Vasculhar no cérebro e no coração pesos e culpas, sonhos e lutas, risos e choros que me trouxeram e me fazem o que sou, onde estou.
A delícia em abrir o presente e lembrar que são frutos que plantei no passado. Tem exatamente o gosto que semeei. Reencontrar momentos...

A certeza de que minha verdade não é loucura, estrutura meus próximos passos para objetivos que deixarão de ser sonhos. Alimenta a confiança em algo maior que só cabe na infinitude da vida daqueles que aprendem a viver na eterna e diária batalha de negar a ficção física e os papeis que geram mortes. Papeis que geram mortes, que surgem a partir de árvores que simbolizam a vida. Que crescem pra cima, desafiando a gravidade. Que se alimentam da terra permitindo seus galhos que sonhem com céu. Buscam as nuvens carregando folhas, frutos e aves, mantendo-se firme frente ao tempo que não anseia.

Que delícia poder sentir o tempo passar por entre os poros e os pensamentos.
Que delícia permitir meu corpo de suar ao som do batuque baiano, dobrar os dedos dos pés sobre a terra e sentir as gotas que escorrem na franja que me cega. De olhos fechados, a música troca com a água que produzo. Uma entra, enquanto a outra sai.
Que delícia sentir a força das minhas pernas concentradas nos movimentos sem nexo que dialoga com a ruptura do silêncio. O silêncio que habitava em mim. O silêncio acumulado de palavras que não saiam e expulsei pela exaustão física.

Não escrever me entope. A ausência das palavras e suas junções que consigam expressar o que me invade, de dentro pra fora ou ao contrário, me entope de vazio o que ameaça explodir a qualquer momento. Por isso danço! Vazam palavras sem nexo, frases sem coerência... se explodir, não terei mais controle do que sai. Eis, mais uma vez, beirando minha estrada, a beleza da loucura. Por isso, danço! Onde a verdade que vaza não mais precisa fazer sentido àqueles que se esforçam a adaptação inquestionável da vida aqui.  Busco o equilíbrio de ser o que me transformo sem afetar os que me cercam... não acho um equilíbrio sadio, pois muito do que vaga sem resposta em mim, busca uma saída rápida e segura para que o outro não questione, o que deveria, mas não sei, responder. Por que deveria?? 

Tentar entender tudo que se sente é utópico. Por isso, eu danço!