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Ensaio Reticom

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Acimentar (2015)

Sinto acimentar.
Não se vive nas metrópoles... Se faz urgente acimentar.
Aceitar a violência em sua forma mais sutil... A pobreza em sua forma mais ornamental.
Não se pode deixar sentir a miséria, é urgente disfarça-la.
Ocupar os olhos, enganar os ouvidos, fingir ar fresco.
Não se tem tempo para sentir tudo que foi arrancado, acimentado, cortado, gradeado, calado, morto!
Se fingir vivo, ocupado, importante e acima de tudo feliz!
Se olha a desgraça alheia para confortar, se ocupa de todas as formas para não parar...

Sinto acimentar.
O creme cinza, de atraente aparência enquanto fresco - fresco!
Te enrijece de dentro pra fora, limitando os movimentos, estreitando espaços até que a força vital se concentre no passo a passo, no dia a dia, no pão de poucos de cada dia. A energia se esgota na insistência de superar o cimento, cada um por si.
A cidade não tem espaço para malemolências, sentimentalismos, ócio ou zen;
A cidade acimenta quem vem e ilude sobre a riqueza que tem.

Sinto acimentar
Na dor aguda no centro do dorso, nem chega ao coração.
Pesa aos ombros, entorta a coluna, cheira solidão.
Os pés firmes se iludem no sapato, que se firma no cimento, mal sabe o que é chão.
Ah os homens da cidade...  já criaram a solução!
Na lista do CID minha angústia já tem nome.
Descrita com termos técnicos, impositores, assustadores, convincentes
É tanta técnica e tecnologia e eu tonta, tentando ser gente!

Sinto acimentar o abstrato, o tato, o trabalho...
A arte, as relações em partes, o lucro, o gozo
Confundindo recompensa com satisfação
Sinto que se não acimentar, não entro no jogo, não.







segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Parecia que havia uma vida

Parecia que havia uma vida
Uma vida pronta, lapidada
Esperando ser vivida, assumida
Esperando uma dor ser superada
Dor de empatia, de olhos, de injustiça
Dor de esperança, de ardor, de polícia
Dor de sonho revolucionário
De identificar e passar por otário!

Chamada de imaturidade
Esperar que o mundo mude
Trabalho como atitude
Esperar da vida, solitude!
Representar o papel social
E ainda ser mulher integral
Tateio uma força essencial
Que não havia neste grau
Mulheres idosas, sábias e sem ideal
Me plantaram os pés no chão... Sem igual!

Parecia que havia uma vida
Esperando eu estar vivida
De lutas, de brigas, de tentativas
Esperando meu recuo, minha prerrogativa
A desesperança que cativa...
O silêncio que ativa
A força que cedia
para o que era de ser meu um dia.