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Ensaio Reticom

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O humano branco põe a mão e tira a vida.

Roubamos as terras, os rios. Derrubamos árvores descartando seus valores naqueles lugares.
Invadimos, matamos, estupramos e decidimos os destinos de quem não é humano branco com algum dinheiro.
Decidimos que este papel vale mais do que tudo. Mais do que a sua vida, a minha...
Decidiram por mim que vale tudo por estes papeis. Quanto mais, melhor! Tudo se justifica!

O humano branco inventou papeis! Papeis que os índios não têm para provar que a terra pertence à tribo. Papeis que os índios não tem para comprar quem decida de quem é a terra. De que é a terra???
De quem é o rio??

O humano branco compra vidas daqueles que não podem falar que não querem ser vendidos. Não querem sem mortos em laboratórios. Não querem que suas peles virem moda. Não querem andar de coleiras ou viver em gaiolas. Não querem serem arrancados do ventre que lhe dá a vida em troca de nada. Em troca de cesta básica. Básica pra quem??

O humano branco põe a mão e tira a vida.
A sensação é de dor e de desapropriação. Desapropriando meu coração que utopicamente acredita numa sociedade mais justa, mais empática. Meu cérebro, não.

Não me fará diferença que partido, que homem estará no comando, pois os interesses são os mesmos. As indiferenças são as mesmas.

Choro pelos brasileiros, os filhos da terra, irmãos da fauna, companheiros da flora. Choro pelo desrespeito, pela ganância, pelas mortes causadas em silêncio. Choro pela realidade que nos impuseram onde não podemos compartilhar a dor da vida com que as perde. Choro me fortalecendo para que eu não me adapte nunca ao jogo sujo do humano, adulto com algum dinheiro.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Um dia, no ônibus...

Queria reconhecer mais sementes e árvores do que marcas de produtos e serviços
Queria ter mãos na terra, cultivando meu alimento do que dedos nos teclados frios e imparciais
Queria amar mais as pessoas do que meus livros. Queria mais trabalho do que emprego.
Queria andar mais a pé do que de ônibus. Queria beber mais água do que sódio.
Acordar ouvindo mais pássaros do que máquinas. Saber mais do meu vizinho do que da Carminha...

Queria ler mais do que ver TV. Queria mais terra que asfalto.
Queria que as crianças desejassem mais frutas do que salgadinhos.
Queria ver mais estrelas do que cinza. Queria acordar com a luz do sol, não com o alarme do celular.
Queria mais conversa, menos fone. Mais oceano, menos petróleo. Mais arte, menos fama.
Mais ser, menos humano. Mais deus, menos igreja.

Queria saber mais de flores do que de remédios
Queria saber mais do índios do que do mensalão...
Queria mais abraços e rodas do que curtidas do FaceBook.
Mais Guevara, menos Pixote.
Mais árvore, menos postes.
Mais animais, menos carros.
Mais seiva, menos plástico.

Queria trocar as embalagens pelos pés. Pés de manga, laranja, maças...
Mais Paulo Freire, menos Xuxa.
Mais criança, menos esperança.
Mais cooperação, menos competição.
Mais companhia, menos campanha, .
Mais pássaros, menos prédios.

Vou fazendo, mudando, escolhendo...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Prefeiúra

A população de São Paulo precisa escolher neste domingo (28) entre dois tipos de interesses para governar a cidade: a política higienista, que vem mostrando serviço nos últimos meses (favelas incendiadas, cracolândia vaporizada) ou a pseudo esquerdista, que um dia citara Marx. Que é como ganhar dinheiro com a imagem de Guevara, né? Capitalismo definindo moral!
Neste briga, as emissoras nos presenteiam com debates entre os candidatos, de um nível inacreditável! Uma briga quase infantil, ilustrada por ofensas medíocres que chegam às "famílias" políticas, seus respectivos partidos. Só faltou ofender às mães! Se eu fosse o mediador nesta briguinha, digna de sala de diretoria infantil, entregaria uma advertência pra cada um e só autorizaria o retorno de ambos com a presença de um responsável. Difícil é encaixar este adjetivo em alguém nesta corja toda!
Enquanto grande parte da população sobrevive entre esgotos e tábuas urbanas, ainda serve de batata quente no jogo hipócrita propostos nos debates televisivos e propagandas eleitorais, que deveriam ser pagas, com largos cachês direcionados à educação e cultura municipal.
As pesquisas vão definindo nossos votos, como as campanhas publicitárias nossos gostos de consumo. Estamos presos nesta sujeira toda, que nos gruda feito graxa e elimina quem tenta se limpar.

É vergonhoso, numa democracia (tão pseudo quanto a esquerda do PT) nos obrigar à escolha do menos pior. Não há quem represente os direitos civis, direito institucionais, de nossa população.
Será que queremos nossas crianças o dia inteiro nas escolas? Será que não faltam pais nesta rotina? O ideal seria que os verdadeiros responsáveis tivessem tempo, condições e dignidade para estar presente e participar de uma das fases mais importantes da vida de uma pessoa. A infância não é respeitada! Não é considerada...
Será que queremos MAIS ambulatórios e escolas? Não temos números suficientes para que exijamos que funcionem!
Será que precisamos de mais remédios? OU o que nos falta é saúde? Precisamos de alimentação de qualidade, de água potável, de uma rotina saudável. Precisamos de mais transportes públicos? Ou uma inteligencia logística seria suficiente? Será que não precisamos de condições para viver onde eu moramos? Que não precisemos atravessar a cidade para ganhar R$ 700,00 por mês. Nos falta educação digna para que os adultos escolham trabalhos, não empregos. Ações que sejam produtivas à sociedade, não que alimentem de forma escassa empregados maquinados. Uma cidade que acolha as crianças com competência e carinho, não mais depósitos infantis. Arte acessível e desmascarada, não elitizada e vulgar.

Não há representantes hoje que atenda às necessidades desta cidade. Ser obrigado a escolher quem vai faturar em cima do suor desta população, de um povo abandonado, que trabalha por osmose, sobrevive e ainda sorri por entrar nos débitos da classe média. Precisamos de atenção, de respeito. Nada disso é dito, citado ou considerado. Nos falta a consciência de não votar em quem não nos representa! Nos falta lembrar que estes caras trabalham pra nós, e não o contrário.


"Um olho na bíblia, outro na pistola"

"Um olho na bíblia, outro na pistola. Encher os corações, encher as praças com meu Guevara e minha coca cola" - Trecho de O Herói, Caetano Veloso.

A violência me assalta com tamanha violência que impede meu salto.
Desfila elegante, com salto alto, pega outro, mãos ao alto, mais um assalto.

A violência tão presente que se faz rotineira, cotidiana... Todo mundo sente, vê, vive, mas fazer o quê?
Índios brasileiros jogando com a legislação e com a vida, o direito ímpeto de manter-se vivos.
Vivos em suas culturas, em suas terras e plantas, em suas tribos e ocas
Cultivando na terra mais vida do que a vida pavimentada das cidades ocas.

O crime da TV bateu na minha porta. E ela abriu!
Sras e Srs. há uma escolha só.
Sras. e Srs. é melhor sem dó!
Soc Pah Bum!!

A novela veio inteira onde sou protagonista de hospitais sem atendimentos, onde as baratas e corpos humanos dividem o chão de um ambulatório imundo sob os risos sem culpa dos enfermeiros. Sou protagonista numa locação barata de delegacia, onde todo mundo cansado demais, transforma a tentativa de homicídio em desinteligência ou briga de família. Meu caso é só mais um. Depois do jornal começa a novela.

Faço parte de um sistema doente, que agride e me amordaça, me permitindo caminhar à passos curtos, amarrados com correntes, trupicando na calçada, me deparando com doentes. Não tenho mais certeza do certo e do errado, se o errado está em todo lugar o tempo todo, e a gente continua seguindo a fase, como preso num jogo de video game, tentando chegar em algum chefão nojento com três vidas, pra que a gente se sinta vitorioso e valente para próxima fase. No fim, o chefão é sempre o mesmo, cada vez mais forte...

30 anos, morando com mãe, sem profissão. Adolescente medíocre, que sofre dores que não são próprias. Vem de fora! Assume as dores do mundo, mas não resolve a si própria. Ah tão cansada das ordens impostas para ser mais uma peça funcional, num sistema que vai mal... Me refaço um pouco por dia, refaço minhas dores e forças para que nada me anestesie.

Humanidade adolescente, que ainda trabalha por dinheiro, sonha com carro chique e come petróleo. Tem medo de crescer e lembrar que não tem tomate o ano todo e o suco não vem pronto na caixinha. Medo da terra. Dorme com o lixo na porta, o medo no alarme, a culpa na blindagem. Nossas crianças nem sabem o que cheetos ou de onde vem o peito do peru... Que diferença faz? Nem os pais...

Palavras já não pesam seus significados, utilizados em jogadas marketeiras e exigidas em entrevistas de emprego. Emprego não é trabalho! Emprego dá dinheiro. Trabalho, dignidade! Faltam trabalhadores numa sociedade adolescente, que ainda em crise compete com imagens e objetos que elevam uma moral que deveria ser composta de empatia e respeito. Adolescência prolongada pela necessidade do ter, pela crise de identidade e pelo que os outros pensam de você. Adolescência tardia, pós infância reprimida que se desenvolve sem se tocar, que cresce sem brincar, que brinca sem sujar.

Humanidades adolescente, que julga, se preocupa com a aparência, enalta e afunda ídolos, e mal definiu quem é e do que gosta. Humanidade onde os hormônios descontrolados são moedas que comandam um corpo promíscuo. Verdades fictícias...