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Ensaio Reticom

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Não sinto só

Não sinto só... Sinto um acumulado de tudo que me cerca
Sinto expectativas como cercas
Nas quais não me permitem sair do lugar...

Não sinto só! Sinto uma avalanche de realidades
Entre as minhas e as outras
Que me acrescentam entre dor e novidades.

Não sinto, só... somente o que acho que é meu
Mal me percebo em tudo tudo que me faz
Em tudo que nem em mim existe,  mas me foi colado.

Não sinto só! Sinto mais um monte
Que me foi arrancado e proporcionado
Tirado e ofertado. Imposto e negado!

Não sinto mais... exceto no que me cobram
Em silêncio ou em contrato
Viver a vida num quadrado
Entre muitos que se desdobram.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

morte

A morte é o corte.
Deporta, conforta
Embola, consola
Corrompe, interrompe

A morte é o mote
De glosa, de prosa
De grito, de Rosa,
De vida proveitosa.
(ou horrorosa)

A morte é um ode
Afeta, de fato.
Conforta quem parte
No último ato.

A morte é a curva
A passagem que urge
O horizonte que surge
Quando a vida se turva.



24 de outubro, 2014

Vai fazer 12 horas que este dia começou. Da última semana, foi a quarta ou quinta noite que acordo de hora em hora, e meu chamado me faz pensar nos chamados noite adentro de milhares de outras pessoas. Mães com bebês recém chegados, mães cuj@s filh@s apresentam algum tipo de problema físico, psíquico, mental ou de comportamento. Algumas mães que eu conheço... Quando levanto perto das 4h, penso n@s trabalhador@s que estão saindo de casa... Minha cabeça tenta me confortar frente à minha necessidade de estar em pé, ajudando meu filho canino a se movimentar para beber água, fazer xixi ou mesmo para andar pela casa.
Com muito sono, levantei às 08h e pouco e me apressei para o curso. Momento sagrado de me aproximar de mim mesma. Caminhei pelo parque, entre as mudas de árvores e flores, deitei sobre as raízes grossas de uma árvore velha. As lágrimas vierem como chuva... e eu pude sorrir, com a gratidão de um flor seca.
Caminhei entre as plantações, observando @s trabalhador@s da terra, e abracei uma árvore, sussurrando pela consciência destes homens sobre a sacralidade de seus trabalhos, agradecendo meu privilégio em estar lá. Minutos depois, me sentei entre as flores e conversei com Silvio, que me expressou alegria e gratidão por trabalhar naquele lugar. Lugar de silêncio, de aroma, de respiro: "É o Paraíso, sem Adão, Eva ou a Serpente", disse ele. Ri, e juntos completamos: "Ainda bem!" Falamos n@s trabalhador@s das metalúrgicas, entre outras realidades usurpadoras, e agradecemos juntos, com as mãos na terra e os olhos no céu. Voltei a caminhar, agora voltando ao curso, à dança circular. Quando meu celular me traz a informações que meu filho canino não está bem... Minha bicicleta me fez voar entre tantas cores de flores para que eu pudesse estar aqui, ao lado dele. Niná-lo, acariciá-lo e ouvi-lo chorar... A velhice desencoraja a vida, se o corpo não atende à mente.
Não posso entendê-lo mais do que leio em seus olhos... e não quero precipitar e nem prolongar qualquer tipo de dor. Num dia confuso, a alegria da não rotina, me espreme entre a angústia e a gratidão de estar onde estou, de ser quem eu sou.
Ao tempo, peço que me conduza com paciência e amor à força de ser o que devo ser, e ao olhar que me faça enxergar o que contexto me exigir.
Que assim seja, com gratidão!