Páginas

Ensaio Reticom

Ensaio Reticom

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Da Lágrima ao Mar

A que parte dos teus olhos nus
Envoltos de um líquido salgado
Sustenta teu corpo que produz
Um grito mudo e angústiado

Num ar contido e sufocado
A pressão que te impulsiona
É interrompida pelo peso lançado

Nos pés, o que tensiona
É em resposta à um organismo
Que não se adapta no espaço

Em vão, insistem e batem seus braços
E na beleza lenta do movimento
Adormecem quietos os órgãos
No corpo triste que chega em seu leito.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sobre o Bem e o Mal

Tem momentos que o ódio me invade.
Invade mesmo, de estrangular meu coração e faz-me sentir a dor física que é tê-lo por perto, por dentro.
Tem momentos em que não o evito! Eu explodo!!
Eu choro, grito, esmurro... Faz mal, mas eu sinto! Sinto o poder e a força que ele nos permite sentir.

Sinto ódio quando as pessoas fingem que não é com elas, quando exercem funções que não querem e culpam os outros, quando empurram a vida com a barriga... Sinto ódio quando não acho A roupa em meio as várias opções do meu armário, me sinto ridiculamente pequena e fútil. Sinto ódio quando as pessoas se indignam em discursos e são passivas e omissas na prática. Sinto ódio de quem não ouve e goza ao apontar contradições alheias. Sinto ódio do espaço que a humilhação e a desgraça tem na mídia. Sinto ódio de quem ri perante a carcaça. Sinto ódio quando eu sento e choro de desespero frente ao mundo que eu não posso mudar. Sinto ódio do egoísmo nato do ser humano. Sinto ódio quando deixo este sentimento me dominar.

Respiro e deixo o ódio se acalmar. Ele não vai sumir, nunca vai mudar. Ele equilibra minha alegria para que esta não se torne insana. Ele equilibra meu amor para que este não me arrombe. Ele me alimenta de força e crença para mudanças. Ele me me limpa quando se condensa em lágrimas, som e silêncio. Ele me faz ouvir quando falo demais e me faz falar quando a injustiça se faz escutar.

Deixo os olhares que me questionam sem julgamentos me enquadrarem, me fazendo questionar qual a razão do meu odiar. Minha vida não me dá motivos a não ser para amar, mas meu olhar para o mundo me exige desequilibrar, me cobra transformações... A vida que escolhi me permite transitar, sem medo de errar, sem receio de odiar, sem arrependimento por me permitir sentir.

Dia de limpeza! Meu ódio cessa com a música...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Com honestidade...

... não sou atriz de publicidade, não sirvo para testes universitários, de câmera. Sou atriz de processos, de construção, de estudo, de grupo. Sou o tipo de atriz que transborda nas mãos de um bom diretor e não suporto trabalhos que permeiam em meu raso. Sou atriz inteira, de me perder entre a personagem e de deixa-la em mim. Não sou atriz de um dia só, não sou atriz de agradar publicitário, não sou atriz por que dá dinheiro, não sou atriz atrás de fama. Sou atriz que vasculha, que incomoda, que zomba, que volta, que irrita, que seduz, que enoja a mim mesmo... Sou atriz de processos longos, de dias de estudo e práticas. Sou atriz de submersão. Não sou atriz que explora zona de conforto. Sou atriz em busca constante de desconforto, de limites, de desconstrução. Sou atriz de esvaziar sempre que o pote lota. Sou atriz de desapego. Não sou atriz relâmpago, de sorriso maroto e olhos verdes.
Não sou atriz de limites, sou atriz de liberdade! A liberdade de ser e estar em qualquer posição tão fácil de ser julgada e resolvida. Sou atriz de contradição, de crescimento. Sou atriz de olhos fechados, vivos pro interno. Busco em mim o forte da personagem. Sou atriz de desapego do porto seguro para poder embarcar no desconhecido, sem me preocupar com a volta. Sou atriz que não volta! Sou atriz da antiga, por mais renovada que esteja minha alma. Não sou atriz pra rótulo, para embalagem, para venda. Sou atriz de produzir, não sou atriz produto.
Não vendo meu produto, muito menos o seu. Produzo para dividir, divido para somar.
Não tenho vídeo-book, estudo vídeos e leio Livros. Sou o que filtro o tempo todo, de tudo.
Sou atriz de diretor faminto, curioso, insaciável.
Não sou atriz de mercado. Sou atriz escassa...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pra que servem as palavras?

Não dá pra escrever pensando muito em como escrever. Entendo que o entendimento da palavra, como principal ferramenta de comunicação, nos favorece em entender o que sentimos e a forma como recebemos o mundo, para que possamos, com segurança, externalizar nossos sentimentos, respeitando nossas angústias, aprendendo com nossas contradições. Não será possível ansiar para que o outro entenda e respeite opiniões e posicionamentos se nem ao certo está claro para aquele que visa externalizar.
A busca pelas palavras certas, com importância relativas à gramática (que se tornam relativas por ultrapassarem a necessidade estética, pois seu foco é comunicar) está presa ao medo que temos de pré julgamentos... Vejo que a estrada escolar ainda segue por este caminho. Muito tempo com desgastes gramaticais, e o conteúdo da comunicação, daquilo que quer e precisa ser dito, se dissolve entre erros e acertos apontados de vermelho. Não dispenso a importância de um português bem compreendido, mas entendo que a língua escrita e a língua falada (ou coloquial) separam-se por uma distância considerável. Não é fácil dominar o português, mas acima disso, como problema mundial, não é fácil se comunicar. Entender e se fazer entendido...

Mais uma vez vejo, por outro prisma, a demasiada importância que damos para o que os outros pensam... E em como isso vem sendo imposto à crianças, sem qualquer questionamento e sem motiva-las a fazerem... Questiono (e muito) a fórmula escolar... - rumo para outro tópico!

Mais uma vez encontro minhas projeções naqueles que critico, me identifico com o que me incomoda...
Filtrar o que vem de fora, acho que é este o desafio.
SER antes de qualquer outra coisa, este o objetivo. Entender-se, questionar-se, permitir-se errar, aprender e trocar. Este é meu ritmo, tendo como lei a única obrigação de ser feliz. E ser feliz está em mim, não fora.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Momento de silêncio aqui dentro é momento de caos. Caos que respiramos todos os dias e aceitamos a bagunça como consequências de uma evolução. Evolução é a palavra que conforta, que confirma que o caminho é inevitavelmente, este! Quando o caos é estabelecido, transformações são inevitáveis.
Aceitação das palavras e de atitudes não representa acato ou consentimento. Respiro em meio ao caos e concentro-me nas próximas escolhas para que este caos me afete como deve ser. Estou entre ele, estamos todos enfrentando e criando, contribuindo e desviando do caos natural e inevitável, resultado de nossa evolução.

A arte não representa, não se posiciona (mais). A arte interpreta, traduz linguagens de interesse para a continuidade da evolução capitalista. A arte que transforma não tem espaço para crescer, resultado de sua própria transformação; então segue mutilada e faltante, reticente perante constantes mudanças sem poder acompanha-las. Segue-as com os olhos tristes e percebe-se impotente.A arte sem o artista é o homem sem alma... E percebo tal ausência na apatia das pessoas que fazem o sistema acontecer. As pessoas estão apáticas! Nos ônibus, nas ruas, nos parques, nos bares...

O capitalismo estabelece um único foco, seguimos com cabresto. A igreja lapida nossa estrutura familiar para não nos dispersarmos. A TV nos conforta após nosso exaustivo dia atrás de dinheiro para o bom funcionamento social e estabilidade familiar. A TV é nosso escapismo autorizado, a informação que distrai, luxos e sangue, lixos e drinks, sempre dos outros... A vida dos outros, problemas dos outros, saúde dos outros, você para os outros!
...oferece os produtos que nos completas, nossos pedaços de bom senso embalados em pacotes criados por importantes profissionais, premiados e reconhecidos internacionalmente. A busca pelo vazio se perde entre os corredores dos supermercados, na exigência da perfeição no outro...

Trabalho, acredito e exijo uma Arte maior, a que assume a responsabilidade de transformação, de recuperação de valores, de respeito, de evolução interna, de olhos fechados, isenta de necessidades supérfluas,  alimentadas pelo ego. Sinto falta de artistas que questionem a estética, os rótulos, os bambambans da arte... Vão à MERDA!! Pois é o que falta... adubo!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Penso Brecht

Penso Brecht. Não como Brecht. Como Brecht e digiro anestesiada pelas guerras que não vivi. Como artista, sugada pela arte que não conheci. Penso Brecht. Suas frases soltas como quebra cabeças. Peças perdidas, espaçadas pelo desdém, consumida pela nova tecnologia lançada tão agora. Tenho poucas partes, mas penso Brecht. Já me engasgo identificando pelo nome o que trava em minha garganta... Não passo fome, como Brecht. Conheço a dor, como ficção. Memória análoga de alguma tarde de sábado, sob o sol, entre a sede. Me permito confundir os sons das ruas com a música do mar. Mas logo penso Brecht. Cabeças de animas, patas e entranhas separadas ao gosto do cliente. Hei Brecht! Este já não passa fome. E a moral, não volta? Perde-se naquele passado? Roubo de alguém? Não se compra para o presente, de outrem? Não precisa de fome para se trair no século XXI. A fome mudou o significado daquilo que falta. Animais em partes, ao gosto do cliente. O resto se paga mais caro. Ora, animais têm aos montes. A moral tá escassa... Onde vende? Fechou? Falta de demanda... Penso Brecht, sua fome, sua moral, seu futuro traduzido e resumido num teatro “blasé”. Pensam Brecht. Pergunta: Quem se atreve a conversar sobre ele? Pobre Brecht... Virara herói capitalista ao lado de Guevara. Dividem mercado, compartilhas adjetivos vazios, de palavras pomposas e prateleiras. Penso Brecht. Comentado por grupos que desprezam a burguesia dividindo seus Big Cheese no próximo fast food. Palavras Brecht! Preenchem salas, livros, massas, línguas... Conteúdo Brecht! Já quase vazio nos vidros colados, coloridos entre Américas e Europa, entre guerras, entre propagandas... Há Brecht! Entre outras partes também deste mundo. Persiste viver em necessidades fisiológicas em comum entre aqueles que não sabem seu nome. Penso Brecht e quero parar. Como Brecht e preciso continuar. Não é fácil digerir; a tradução da realidade é indigesta, queima há anos... Pensando Brecht, a realidade parou, o tempo passou, as formas e cores alteraram os fatores, não mudaram os resultados. Fome de Brecht de moral reservada. Com licença...    

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre Leitura da obra de Strindberg, PAI

Projeto 7 Leituras Dramáticas, 7 Autores, 7 Diretores, 7 Encontros - SESC Consolação

Gosto de Leituras. mas penso numa direção criativa sem que perca a característica da Leitura!

Assisti hoje a leitura da obra PAI, de Strindberg. Coincidência ou não, desde o início deste ano tenho estudado e lido muito sobre o autor. Como atriz, julgo suas obras de difícil encenação, como espectadora, me remete à já familiar fórmula dramática. Acreditei que a apresentação no SESC esbarraria no equilíbrio entre meus julgamentos.
Considerando ousadia demais, a Leitura apresentou marcações cênicas e interpretações em conflito com os diálogos que deveriam ser lidos. O que vi foram proclamações de textos decorados com atropelamentos, pois não parecia haver acompanhamento do texto por parte de todos os atores, apenas a urgência em falar. A preocupação em ler, interpretar, interagir e respeitar as marcações poluiu a proposta, onde uma boa e crua leitura supriria as expectativas. As minhas, pelo menos...
Li pouco sobre projeto e vi que marcações, cenografia, iluminação, e outros elementos são propostos, mas no mesmo projeto, ano passado, pude acompanhar leituras que respeitaram o tempo dos atores, favorecendo o estudo e análise do texto, que possibilitou segurança e propriedade dos atores sobre suas personagens, tornando a ausência de elementos cênicos como parte intrigante da apresentação.

Vale elogiar o belíssimo texto de Eugênia Thereza de Andrade no programa do projeto, que nesta edição aborda a Família como tema central.

Não me cabe aqui divulgar críticas destrutivas, mas sim a proposta de debate sobre linguagens e propostas cênicas, a fim de discussões construtivas. Como espectadora, confesso que não senti quase duas horas de espetáculo, mas como estudiosa exponho pontos que me foram conflitantes.

Ansiosa pela Leitura de Álbum de Família, de Nelson Rodrigues agendada para o dia 25 de outubro!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Trecho HamletMachine - H.Muller, 1977

Televisão 
A nojeira nossa de cada dia
Na verborréia preparada 
Pela alegria prescrita
Como se escreve 
ACONCHEGO
Dai-nos hoje a morte nossa de cada dia
Pois teu é o 
Nada Náusea
Pelas menitras em que se acredita 
Nojeira
Dos mentirosos e de mais ninguém 
Asco
Pelas mentiras em que se acreditam 
Nojeira
Pelos rostos marcados dos hipócritas
Pela luta por postos, votos, contas bancárias
Nojeira 
Um carro de assalto que faísca com as suas graças
Passo por ruas galerias fisionomias
Com as cicatrizes da batalha de consumo 
Miséria
Sem dignidade 
Miséria sem dignidade
Da faca do boxe do punho
Os ventres humilhados das mulheres
Esperança das gerações
Sufocadas em sangue cobardia estupidez
Gargalhadas vindas de ventres mortos
Heil para COCA COLA
Um reino
Para um assassino