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Ensaio Reticom

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"Um olho na bíblia, outro na pistola"

"Um olho na bíblia, outro na pistola. Encher os corações, encher as praças com meu Guevara e minha coca cola" - Trecho de O Herói, Caetano Veloso.

A violência me assalta com tamanha violência que impede meu salto.
Desfila elegante, com salto alto, pega outro, mãos ao alto, mais um assalto.

A violência tão presente que se faz rotineira, cotidiana... Todo mundo sente, vê, vive, mas fazer o quê?
Índios brasileiros jogando com a legislação e com a vida, o direito ímpeto de manter-se vivos.
Vivos em suas culturas, em suas terras e plantas, em suas tribos e ocas
Cultivando na terra mais vida do que a vida pavimentada das cidades ocas.

O crime da TV bateu na minha porta. E ela abriu!
Sras e Srs. há uma escolha só.
Sras. e Srs. é melhor sem dó!
Soc Pah Bum!!

A novela veio inteira onde sou protagonista de hospitais sem atendimentos, onde as baratas e corpos humanos dividem o chão de um ambulatório imundo sob os risos sem culpa dos enfermeiros. Sou protagonista numa locação barata de delegacia, onde todo mundo cansado demais, transforma a tentativa de homicídio em desinteligência ou briga de família. Meu caso é só mais um. Depois do jornal começa a novela.

Faço parte de um sistema doente, que agride e me amordaça, me permitindo caminhar à passos curtos, amarrados com correntes, trupicando na calçada, me deparando com doentes. Não tenho mais certeza do certo e do errado, se o errado está em todo lugar o tempo todo, e a gente continua seguindo a fase, como preso num jogo de video game, tentando chegar em algum chefão nojento com três vidas, pra que a gente se sinta vitorioso e valente para próxima fase. No fim, o chefão é sempre o mesmo, cada vez mais forte...

30 anos, morando com mãe, sem profissão. Adolescente medíocre, que sofre dores que não são próprias. Vem de fora! Assume as dores do mundo, mas não resolve a si própria. Ah tão cansada das ordens impostas para ser mais uma peça funcional, num sistema que vai mal... Me refaço um pouco por dia, refaço minhas dores e forças para que nada me anestesie.

Humanidade adolescente, que ainda trabalha por dinheiro, sonha com carro chique e come petróleo. Tem medo de crescer e lembrar que não tem tomate o ano todo e o suco não vem pronto na caixinha. Medo da terra. Dorme com o lixo na porta, o medo no alarme, a culpa na blindagem. Nossas crianças nem sabem o que cheetos ou de onde vem o peito do peru... Que diferença faz? Nem os pais...

Palavras já não pesam seus significados, utilizados em jogadas marketeiras e exigidas em entrevistas de emprego. Emprego não é trabalho! Emprego dá dinheiro. Trabalho, dignidade! Faltam trabalhadores numa sociedade adolescente, que ainda em crise compete com imagens e objetos que elevam uma moral que deveria ser composta de empatia e respeito. Adolescência prolongada pela necessidade do ter, pela crise de identidade e pelo que os outros pensam de você. Adolescência tardia, pós infância reprimida que se desenvolve sem se tocar, que cresce sem brincar, que brinca sem sujar.

Humanidades adolescente, que julga, se preocupa com a aparência, enalta e afunda ídolos, e mal definiu quem é e do que gosta. Humanidade onde os hormônios descontrolados são moedas que comandam um corpo promíscuo. Verdades fictícias...
 


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