Não eram mais flores que conquistavam desculpas, teciam elogios ou
faturavam a noite.
Não eram mais rosas vermelhas que condensavam o amor
que o homem não sabe descrever.
Não eram mais rosas amarelas que
fortaleciam amizades ou as brancas que faziam a paz nas relações. Não
eram mais os cravos que aconchegavam a saudade na cara da morte.
Não
eram mais os antúrios que proporcionava noites de gozo às mulheres
solitárias. Não eram mais os lírios laranjas ou Copos-de-Leite que
faziam a beleza do ritual dito sacro. Não eram mais samambaias que
suportavam a opressão dos apartamentos, nem mais a Espada de São Jorge
que protegia do mau olhado. Não era mais o boldo que curava o estômago,
nem a hortelã que refrescava o hálito. Não eram mais os ipês que
coloriam a cidade. Nem mais o
eucalipto salvava a sensação do reflorestamento. As macieiras já não
provavam a gravidade, e a laranjeira não perfumava mais os campos. Romã
não curava a garganta e o potássio da banana não aliviava as câimbras. O
azedo do morango não arrepiava mais de dentro pra fora, como foram as
paixões. As frutas nasciam estéreis nas gôndolas do supermercado, e as
cascas, que protegiam a carne sem gosto, tinham o brilho dos plásticos.
As raízes acimentadas levaram os pássaros sobreviventes a acreditarem na
prisão. Os cantos que se ouvia, vinham apenas de caminhão. Não tinha
mais grama para proibir pisar, fonte para não se banhar ou nas nuvens,
desenhos para acreditar. Não havia mais motivo para olhar pra cima, nem
chuva mais chovia para não molhar. Não precisava mais correr, do sol se
proteger, água pra filtrar, nem a lembrança de plantar. Barro não sujava
mais, formiga não picava e abelha não voava. A areia não se escondia sob as unhas e as ondas não desequilibravam já
que o mar não mais se movimentava. Era um grande acumulado negro de
petróleo brilhante, denso e farto, garantindo a principal matéria prima
da vida humana e iludindo os olhos que ainda acreditavam nas cores. Não
eram mais as relações humanas, eram as relações coisais que nos
garantiam. Não era mais tristeza, nem solidão. Não era mais carinho,
bichinho… Não tinha mais mais emprego ou patrão. Não era o sexo que
aliviava, mas também não culpava. Não era mais excitação que
constrangia, nem tesão que motivava. Não tinha choro, nem vela, nem
violetas na janela. Não tinha cão ou dragão, mistério ou comédia, galã
nem bufão, livros ou novela. Não éramos mais humanos…
Éramos o resto de
um pesadelo que ecoava na mente dela.
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