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Ensaio Reticom

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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Eu ocupo meu corpo

 Eu ocupo meu corpo.

Meu corpo ocupa um espaço.

O espaço que meu corpo ocupa foi uma escolha minha? Eu, que ocupo meu corpo, escolhi o espaço que meu corpo ocupa? 

Meu corpo debruçado na pia, meu corpo em pé, debruçado, braços molhados, ocupa um espaço físico limitado, me força estar onde ele ocupa. Quem se ocupa do meu corpo? Como posso ocupar um espaço que faz meu corpo se ocupar de coisas que eu não me sinto ocupar? Que eu não me sinto morar... 

Minha ocupação é determinada pelo meu corpo? Ou minha ocupação é meu corpo e me cabe levá-lo à ocupar outros espaços? Fazer do lugar uma ocupação... Ocupar o espaço. 

Meu corpo é meu espaço e eu não posso me ocupar dele? Fazendo desta moradia um lar, pintando, pendurando arte, quebrando paredes e levantando outras... Não ter portas, mas querer janelas?!

É o meu corpo e eu mal posso me ocupar dele porque o espaço público que meu corpo ocupa não gosta de quem ocupa os corpos... Mal nos deixam saber quem se ocupa dos nossos corpos e nos culpam por eles estarem e por serem quem queremos que eles sejam para que nos permitam existir. 

Meu corpo debruçado na pia, braços molhados, eu debruço sobre meu corpo tentando entender se o que me ocupa me constrói, me reconstrói ou me destrói. 

Deixar meu corpo como desocupado  e deixar as ocupações assumirem, sem que eu faça questão do espaço que eu ocupo é uma alienação autodestrutiva. O tipo mais comum de suicídio! E já é cultural... Ocupam nossos corpos para que nós não nos ocupemos deles. 

Ocupar o próprio corpo ecoa culpa...

Negar as ocupações que não me ocupa, ecoa culposo. 

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