Nada faz sentido quando sentamos em cima do muro
Do lado de lá, coisas que machucam, magoam, desesperam
Do lado de cá, o conhecimento, o conforto, o esquecimento.
Volto pro muro. Quero pular, tentar fazer alguma coisa...
Compartilhar a paz ou amenizar a dor, compartilhar do sofrimento e amenizar o amor
Não fico, pois meu espaço é outro
Me ralo, mas subo e me devolvo.
Acordo cedo. Escrevo, mobilizo, não consumo
Acredito que tais ações reflitam por de trás do muro.
Espio quieta o grito que não sai, a lágrima que não se forma
Engulo seco a angústia da impotência hipócrita que me transforma
Seguro o desespero em choro que se chama desabafo
Até o dia que o vômito não mais justificará o que eu faço
O rir pra não chorar me causa medo
E já riu sozinha, com o pé no desespero.
E se pulo o muro? Pulo e fico lá!
Vou avistar outros olhos quando a fome chegar
Secreções vacinadas contra sujeira, violência...
E som da TV pra se calar.
Ninguém mais ao muro... A TV mostra o mundo
Ninguém mais à frente de uma dor sem culpa
Frente às desgraças e tolerância que não muda
Não se fecha mais os olhos, se pula corpos.
Já está tudo abarrotado. Seres vivos por todos os lados
Uns pulam e se perdem, outros tentam e são mortos
Quem senta sobre o muro nem é mais observado
Já tentam levantar seus próprios tetos tortos
Já penso que este muro tá na hora de cair
Vou sozinha e faço força sem medo de insistir
O discurso que soa defende os tetos tortos
Que dependem do muro para não serem mortos.
Entrei em seu blog para ler apenas este poema. Pura inocência minha, pois, diante de tamanho talento, coragem e voz contundente, me vi obrigado a ler tudo! De seu mais novo admirador.
ResponderExcluirOI Daniel!! Obrigada pelo comentário e considerações. Me faz querer escrever, cavocar, provocar, pensar, compartilhar, viver mais :)
ExcluirRealmente inspiradora você ;)
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