Páginas

Ensaio Reticom

Ensaio Reticom

sexta-feira, 14 de junho de 2013

"Tem dias em que a gente se sente, como quem partiu ou morreu. (...) Ou foi o mundo então que cresceu?"

Ontem foi a primeira vez que senti medo. Medo da guerra quando entendida tão perto que se trata de vozes que clamam por justiça frente à uma parede estúpida de seres humanos manipulados e alienados, que não compreendem que esta batalha também é deles, pra eles, por eles. Massa de manobra, vítima do trabalhado alienante, a polícia agride de olhos fechados e coração acimentado. São como cães que vivem confinados, que passam fome, que sofrem agressões físicas e psicológicas e não entendem uma ação de carinho, de amor. Bater em pessoas que pedem o óbvio não faz o menor sentido! Quando eles deveriam estar nas ruas também, protestando contra seus baixos salários, a falta de acompanhamento psicológico, a falta de recursos materiais, a exposição à violência. Onde estavam contra o PCC em 2006, que mostrou quem realmente governa esta cidade? Não tinham a menor condição de guerrear contra os caras... Mas suas fardas viram a mão de deus contra estudantes, professores, índios, cidadãos! Cidadãos de cara limpa, armados de indignação e coragem.

Passei a noite em protestos e guerras. Minha cabeça não me permitiu descansar. Sonhei com bombas, fumaça, gritaria, sangue, escudos, flores, cimento, escuridão, buracos, medo. Acordei travada! Minha coluna, minha estrutura física foi abalada pelo choque psicológico. Perdi um dia de trabalho, com pessoas dispostas a compartilhar ferramentas de cura social e paz interna. Estou travada, perplexa, com dor, num buraco que do peito parece ter chegado ao outro lado. Dói quando respiro... Porque está difícil respirar com tanta fumaça, com tanta impunidade, com tanta vergonha! Minha estrutura não me traz segurança, está fragilizada, desestruturando...

Não se trata de uma semana de luta. Se trata de anos de injustiça e a primeira tentativa de respiro profundo e honesto depois que nos contaram que a ditadura militar havia acabado, em 1984. Se trata da primeira negação aos estúpidos bens material e o reconhecimento da falsa liberdade de escolha e expressão. Se trata do total entendimento social de que a democracia e seu significado tão expressivo nunca fez parte de nossa sociedade. Se trata de entender que a polícia é a mais grave classe trabalhadora afetada e manipulada por esta doença capital. Se trata de tirar da mídia o poder de informação, de comunicação pois vê-se agora, claramente, aos olhos de todos, quanta desinformação, mentira e despreparo formam esta classe de ego tão largo. Se trata da população entender seu força e assumi-lá. Que seja de consciência plena, pois seremos o buffet de grandes festas mundiais, e que nos lembremos que não há estrutura para tanta celebração. Não há animadores para estas festas, não há palhaços para entretenimentos vazios, não há mais espectadores de exploração, de riqueza esbanjada. Que não haja mais poderes fálicos engravatados estruturando nosso campo de ação. Que haja o povo, em plena ação de negação, de recomeço!

Parabéns aos moradores de São Paulo que abraçam a luta com suas participações individuais num coletivo que objetiva a integridade democrática.



Nenhum comentário:

Postar um comentário