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Ensaio Reticom

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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Escolhas cotidianas. No capital.

"Quando a fome entra pela porta, a moral sai pela janela"
Cresci ouvindo esta frase, segui mastigando a ideia. Eu nunca passei fome, o que me permitiu questionar a moral que nos faz. Conceitos, ideias e caminhos postos. 
Penso que, de maneira geral, a fome deu lugar à outras necessidades criadas pelo modelo econômico e social que nos recebeu, entre a burguesia que nos cerca. Fome de ter mesmo! 
Nem de longe, venho questionar a necessidade fisiológica que mata e destrói milhões, quiçá bilhões, de vidas por todo o planeta. Não aqui! Mas refiro-me ao mundo micro que vejo e tateio ao redor. Inserido no mundo macro que se alimenta desta fome fisiológica, a miséria é explorada com sangue nos olhos daqueles que a transforma em capital.
Assim posto, reflito sobre a fome do ter. A fome da segurança, contra medos por todos os lados. E por medo de não ter, de perder, fechamos os olhos aos que não tem, nunca tiveram. Tudo parece distante no aconchego do lar. Não pensamos no trabalho escravo que produz nossos bens, já que este nos vem com muito suor e merecimento. Pois, como acima citado, respondemos ao mundo que vivemos e tateamos, não ao que acessamos esporadicamente.
Há quem se mobilize, num sentimento empático, por meio destes acessos esporádicos, e dentro da própria possibilidade real, faz o que se pode. Principalmente por já estarmos convencidos de que mudar o mundo é coisa de gente utópica, ideológica... insana. Falta pé no chão... ou conta pra pagar!
Estes acessos esporádicos, podem, por escolha, tornarem-se mais frequentes, mais efetivos. E vamos nos alimentando do apreender da história, do contexto. E vamos assim, nos percebendo parte do todo. E enquanto parte do todo, começamos a construir críticas. Criticas seguras, embasada em anos de pesquisa antropológica, sociológica, política.
Assim, com todo acesso e interesse e pesquisa, nos aproximamos da questão social e, muitas vezes, chegamos no questionamento do que nos alimenta. Do que procuramos nos alimentar. Na reflexão de: Temos fome de que? 
A resposta é relativa e, muitas vezes incerta. Mas quando ameaçada, buscamos pela segurança de garantir aquilo que nos formamos. E para defender aquilo que nos formamos, com muito esforço, e que nos identificamos, no momento de ameça, a moral e a ética caem facilmente para a teoria. 
O exercício de manter-se ético perante ao todo, provoca, quase que naturalmente, um enfrentamento frente ao todo. E em uma escolha que busca a complexa e relativa práxis da ética, só se tem ao lado os que assumem o risco de perder algumas estruturas tidas como básicas. O que nunca fácil, pois nunca uma escolha desta gera consequências só pra quem a fez. Leva tudo e todos ao redor. 
Mas a escolha, é sempre do individuo. Pronto ou não para as consequências. E penso que refletir sobre a práxis da ética requer consequências pesadas em escolhas solitárias, numa realidade macro onde a ética é prensada de acordo com a área (comercial, mercantil) que se apropria dela. Num todo que buscará sempre pela relatividade da ética para segurança e garantia de suas fome saciadas.

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