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Ensaio Reticom

Ensaio Reticom

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

As pessoas têm medo do Amor

As pessoas morrem. As pessoas são presas. As crianças são violentadas. As crianças são abrigadas. Os jovens vão pras ruas. Os adultos pagam contas. Sentem saudades da infância porque ser adulto aqui é uma droga. As crianças querem crescer porque ser criança aqui é uma droga. As pessoas querem dinheiro. As pessoas não se importam. A vida é difícil. O emprego é escasso e a rotina é um saco. Os animais são explorados. A mulher não manda no corpo. Os negros ainda são escravos. Os brancos são gordos. O dinheiro é importante. A escola é cadeia, o emprego é cadeia, na liberdade é cadeia. E a cadeia é a retirada estúpida de pessoas que são violadas e violam porque o dinheiro importa. As pessoas não sabem quem são, do que gostam, o que sonham. Querem dinheiro para viver. Viver é caro. As contas chegam errado, mas as pessoas pagam certo. A comida é envenenada, mas as pessoas comem o certo. A organização política democrática não funciona, mas as pessoas votam certo. A vida tá um saco, mas as pessoas insistem em viver certo. Odiando umas as outras, fingem que amam para ver se cura a doença cotidiana. Mas na verdade, sinto muito, as pessoas têm medo do amor. Porque o amor faz este controle perder o sentido e abre os braços à indignação. Não é possível uma vida medíocre (no sentido de comum) com a indignação abraçando o amor.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

sem título

As crianças já não sonham
A sombra já não basta
O tempo não dá tempo
Pra vida que desgasta

Os animais tão escassos
Que viram espetáculos
Se presos, afortunados (?)
Se livres ameaçados

A violência é tão rotina...
Vem do peso da batina,
Da ordem da botina,
É diferente se é menina.

Menina não revista!
Segue as dicas da revista
Tem sua moral vista
Pelas roupa que se vista.

De for pra dentro
Se define o momento
Se é Maria, se é Pedro,
A partir do julgamento.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

As pontes entre uma palavra e outra, tornam-me o que sou.

Eu era relativamente pequena, quando a realidade dos animais explorados pela nossa espécie me chocou. Eu sempre gostei de bichos, e quando entendi a situação não consegui diferenciar porcos, galinhas, vacas e bois de cães e gatos. O que na minha cabeça é tão lógico, foi e ainda é, um choque pra sociedade. Depois de um tempo, consegui entender que não haveria mudanças significativas na vidas destes animais, se o ser humano não passasse por transformações emancipatórias. Percebi em mim a desconstrução que a arte proporciona, ampliando o sentimento empático ao assumir a visão e o lugar do outro, comumente julgado. Na educação informal, conheci outro mundo inaceitável onde seres humanos mal conseguem se enxergar como sujeitos, e para que eles pudessem considerar as demais espécies, era necessário que eles pudessem se enxergar como uma especie também digna de ação e respeito.
A violação direta na vida de milhares de seres é tão comum, está tão naturalizada, que é necessário tempo, estudo e paciência para fazer com que os demais possam se comover com a desgraça óbvia. O que tanto cega? Percebi então que não haveria olhares empáticos para os outros, humanos ou não, enquanto cada indivíduo passar por necessidades. Quando olhei ao redor, percebi que há todo um esforço para que nunca deixemos de sentir necessidades, e quando as básicas estão supridas, o foco torna-se questões obsoletas. Então, "preciso" trocar de carro, não "chega" em mim a desgraça, sangue e dor dos que nem pensam num carro. E quando chega, soa tão distante... ah, eu não posso fazer nada! Todos ao meu redor pensam em carros, relógios, casas e viagens.
Vivemos em mundos paralelos, onde as pessoas se encontram de acordo com os valores que lhe são sagrados, e se esbarram quando opostos. No meio disso tudo, ainda insisto em saber de mim. Quem sou e quem me formo, o tempo todo. O que em mim cai, o que nasce, o que eu quebro, o que me arrancam. Olhei pro passado e (re)descobri, descolando o que a escola me impregnou, que já havia brasileiros antes dos portugueses. Encontro em minha indignação o espaço sagrado dos índios violados, mutilados desde sempre até sua escassa e árdua existência dos dias de hoje. E segui parada feito criança abobada, olhando um mundo de violações, onde mulheres, negros, índios, crianças, homens, porcos, galinhas, cachorros, coelhos, macacos, pássaros... Todos são tão impedidos de viver! Por quem??? Por que?? Unam-se os violados diretos, somos tão maioria encoleirados por poucos brancos, cegos, gordos!!
Se nada, na vida do outro, não te dói, não te incomoda, não te quebra um teco, não sou eu que vou insistir em abrir sua alma. A minha já anda tão exposta e me soa egoísta quando penso em fechá-la. Não quero mais explicar porque optei por dar aula num país onde o professor apanha da polícia e tem salário de fome. Não quero mais explicar porque não como, não visto e não uso animais. Não quero mais fazer entender porque a violação de um ser me incomoda, e nem porque consigo compreender quando os violados começam a violar. Não acho mais palavras para o que me é tão óbvio. A situação não exige mais explicação, implora um olhar. Implora um respirar profundo em silêncio, implora olhos nos olhos.
E hoje, neste momento sou (humana, mulher, adulta) educadora social, artista, feminista, anarquista, vegana! São os rótulos que resumem todo este texto, e com o esforço da construções de pontes entre uma palavra e outra, me faz quem sou.  

domingo, 13 de outubro de 2013

A Rua

A rua:
Lugar público, que permite manifestações de alegria, de revolta, de indignação, de amor. Lugar de trânsito de pessoas, de carros, de pombos sem cor... Lugar que abriga atrações artísticas, lojas e barracas, árvores frutíferas, sorrisos e rancor. 
Palco de resistentes, cama de sobreviventes.
Sem cortina ou teto, vidas vividas sem olhares ou afetos.
Sem tapete pra esconder, sem mesa pra comer, sem sofá pra se deitar, sem privada pra mijar. Sobrevivem livres no mundo que engole inteiro, o indivíduo imundo e prisioneiro.
Aproximo meu olhar e meu olfato aos sujeitos que a vida só deixou relatos.
A resistência e adaptação, me soam inatos à situação. Mas o descaso e o desdém, me transparecem a distância daqueles de bem, que são os que tem.
Meu medo me abraça ao encarar a realidade do outro.
Encaro a noite na praça, sem saber quem é vivo quem é morto.

Meu futuro me cochicha a possibilidade da rua
Da rua como sobra abrigando o meu resto
Do sistema que cuspiu o que à ele já não presto.
Meu futuro me assombra como boca muda
Muda o presente sem medo de regresso
Compra o trabalho, me cala o pretexto
Garantia de espaço, ao mundo não pertenço.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ao tempo deixado em mim com a ausência de palavras suficientemente complexas, que esbarrasse na imensidão de achismos e sentimentos, num conflito vagaroso sobre o lugar do outro em mim. As escolhas entre os meios de manifestações têm mostrado opiniões de aço, porém ocas. Rostos belos e almas loucas. A insanidade, quando não vista de frente, descaracteriza o individuo, transformando-o em sujeito passivo, empurrado pela maré, com discurso pomposo, como se acima da ralé.
Meu desgosto pela desgraça, mentira, hipocrisia esgana minha necessidade de comunicação, de dança e poesia. A beleza perde o sentido em frente ao desdém e a indiferença. Eu enfeito meu caminho enquanto alimento minha crença.
Assassinos de animais, escassez de professor
Os clientes são os pais e a fome do eleitor
Não importa quem apanha, a polícia tem razão.
Pois protege só quem ganha, são escravos da ilusão.
Tem a arma na cintura, a farda tão segura, ainda assim lhes falta o pão.
A lei pertence a quem pertence o capital, não vem dizer que não.
A justiça lenta, que mata a alma e envenena, é pra todo resto que ganha mal e engole merda do patrão.
A arte vendida como entretenimento, respira com inalador entre a população.
Seu mal maior é dinheiro. Anda ferindo por dentro, mais que a poluição.

A doença que vence o ventre, ta exposta na vitrine. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

infantilizando um simples saber

Seguimos atentos pensando saber
que sabemos o bem pra quem bem entender.
Andamos calados e bem comportados
Aceitando acatados pra se bem conviver.
Fechamos os olhos dormindo acordados
Pra violência no outro não interromper
Nossa vida vendida a preço barato
Que nos obrigaram pra sobreviver.

Garantimos a paz negando aos demais
o direito mais simples. O de se viver!
Viver é acordar, comer e amar
Sem ter preço ou ter hora pra se respeitar.
É entender seu lugar, a empatia guiar
O outro acolher pra se completar
É deixar-se guiar por sorriso e olhar
E não tentar entender, aceitar, explicar
o sofrimento do outro, se justificar.

É tudo tão simples e mais fácil
se ouvirmos a voz do nosso próprio rádio.
Apoia o ouvido sobre seu braço
E respeite aquele que enlaça o abraço.
Receba do corpo a energia do outro
Que traz o sentido mais caro que ouro.

Assim aprendemos que o bem a saber
Nasce do outro e vem de você.
Não se aprende na escola, na rua ou na tv
se nos olhos do outro se negar a ver
que carrega em você a dor que no outro
você finge não ver.





Perguntas sem vírgulas

O que é normal nesta vida de tentativas frustradas de se viver no tempo que vendemos para ter coisas que não teremos tempo de usufruir? Nesta vida onde doamos nossa saúde à produção de bens que não nos pertence? Na tentativa de nos completarmos com bens que não fazem parte das necessidades básicas? As mesmas que atropelamos e fingimos não ser importantes para que possamos nos adaptar às exigências daqueles que compram nosso tempo e se apropriam de nossa saúde para adquirirem meios de inventarem novas necessidades? Ou ainda, as mesmas necessidades que atropelamos pelas faltas de condições básicas de sobrevivência em sociedade, onde insistimos em viver, suportar, aceitar.... Por algum motivo maior que nossa própria limitação física e psicológica?
Como pode ser normal eu estar no conforto do meu sofá, abrigada do frio e da chuva enquanto crianças trabalham 15 horas em fábricas ou morrem de desnutrição? Pensar que há pessoas em SP que morrem de frio, no centro da cidade, e são notadas desfalecidas após dias sob coberturas sutis de qualquer coisa que lhe escondam o corpo, o rosto, o ser que definha na capital mais rica de um dos países mais fartos do mundo, e eu acreditar que a culpa não é minha? Em nada? Não está nos produtos que consumo? No que chamo de comida? No que acredito ser entretenimento? Na minha ausência nas políticas públicas? Que escolha tenho frente ao muro colorido e farto que me tapa a injustiça e me propõe conforto, paz e beleza na próxima compra? E que me garante o direito de ter uma família, casa e filhos sem que me alerte o preço de tal felicidade? E quando me conforto na impossibilidade de mudar o mundo e sigo com minhas escolhas mesquinhas e hipócritas para aliviar a culpa que sinto por ter nascido num esquema pronto de projeções de culpa por meio da palavra de deus? E aceito que os representantes diretos, de deus e do povo, possam gozar de seus bens inúteis enquanto ainda há fome num planeta farto de vida? Que lugar é esse que nos tira qualquer opção de escolha e nos faz acreditar na liberdade de expressão, na democracia, nos direitos de vida e enquanto enxugo gelo acreditando no que o próprio sistema cria para que possamos prosseguir? E eu me perco em palavras, sentimentos e tento focar meu trabalho onde vejo possibilidades de mudança, enquanto a internet pulveriza minha indignação em palavras soltas num universo fictício que move este jogo perverso de crenças manipuladas, frias e sanguinárias movido por pessoas preocupadas com seus próximos status, carros, namoros e bens...?


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

MERCADORIA

MERCADORIA.
merda de dor
mercado que ria
enquanto me consumia.
Produto que comia
projeto que vendia
programa de mentira
formando gente,
gente mercadoria.
Achando que valia...
Gerente de fábrica
De coisas, de caca
Quanto mais, mais valia
Caçando tempo
No tempo que falta
Pra lembrar de uma vida
Antes de ser mercadoria.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Nada faz sentido mesmo...

Quando enxerguei que nada mais faz sentido, senti-me na pele de um suicida, que opta pelo desconhecido ao buscar forças para insistir por aqui.
Na minha visão, não refiro-me à morte, pois meu maior sonho é vê-la me procurar, e me encontrar aguardando-a com um sorriso honesto e reticente. Refiro-me ao tentar VIVER num esquema imposto para sobreviver.
Vivemos uma vida medíocre, em conta gotas, tentando adquirir bens inúteis que nos fazem mais felizes aos olhos alheios. Nos criam necessidades inventadas e nos dificultam o saber natural de viver em harmonia com a terra. Vendemos nosso tempo à empresas privadas ou órgãos públicos a fim de que estes paguem bem pelo nosso preciso espaço de tempo, pois nós não sabemos o que fazer com ele. Mas sabemos o tanto de coisa que se pode fazer com o papel que se paga.
Aprendemos que lei da sobrevivência é estruturada por desdém e desrespeito. E não devemos perder nosso tempo questionando tais bases, pois não há quem pague por isso. As coisas são assim, e devemos aceitar.
Somos igualmente desrespeitados pelo poder público, que administra nosso dinheiro desviando de seus fins, que seriam para pagar as condições básicas de uma vida, digamos, digna. Mas me deparo com televisões nos ônibus, que ofertam horóscopos, produtos industrializados e informações de "cidadania" como receitas ou "não coma gorduras" logo depois de um comercial de maionese. Enquanto ao lado, um senhor de barba branca passa por baixo da catraca. A catraca que tem seu corpo de ferro, quase até o chão para que dificulte ou impeça as pessoas de não pagarem.
Nosso ilusório direito de ir e vir, tem um preço. Logo ele está atrelado no "direito"/ DEVER de se ter dinheiro. Para se ter dinheiro, você aceita o que te ofertam, pois a demanda por conseguir qualquer dinheiro é imensa. Nossos direitos à alimentação, moradia, saúde, educação velam sob as mesmas rédeas. É o direito natural do TER. Eu não entendo bem, o que dificulta minha vida por aqui...
As que mais ofertam possibilidades de se ganhar qualquer dinheiro, são as empresas privadas. Que levantam milhões em alguns anos e repartem este dinheiro entre propagandas e chefões da coisa. Com os empregados, fica o minimo que o poder público obrigada a pagar, sob várias regras e papeis estúpidos que nos desencorajam a perguntar ou querer entender. As empresas privadas oferecem, em sua grande maioria, coisas que não precisamos. Mas lembra aquele dinheiro em propaganda? É para que eles nos convençam a precisar do produto. E eles convencem!! Daí a agente aceita ser empregado de uma empresa de merda, que trata mal os consumidores E os empregados, para ter dinheiro para pagar o governo e torce para uma sobra comprar um produto que não precisamos, mas achamos que sim.
O capitalismo nos cerca de opções para que acreditemos na liberdade de escolha. E nos impede, aterrorizando qualquer pensamento, de imaginar como seria uma vida social fora deste esquema. As pessoas não pensam nisso e não acreditam ser possível. E eu, penso, qual o preço que pagamos com nossa saúde e nossos nervos por um conforto inútil, fictício, inventado?
Aí vem um feliz empregado e consumidor me questionar: Se sou contra o capitalismo, porque tenho computador, internet e celular?. E eu, respiro em 10 longos segundos, que me fazem pensar que ele não pode ser capaz de entender. Porque tudo faz sentido para um parafuso que roda feliz vendo a máquina funcionar, e sabendo ele que faz parte desta força... É muito prazer! Difícil é para que não quer brincar de ser parafuso. Ou pra quem não consegue entrar e ser parafuso, nem porca, nem mola, nem graxa...

O que me é claro é que sou NATURALMENTE CONTRA O SISTEMA CAPITALISTA. Disso eu tenho certeza, por que a agressão é de fora pra dentro e a indignação me bomba de dentro pra fora . Porque eu não consigo aceitar o descaso com a vida por preço nenhum. Porque eu não durmo em paz quando me deparo com violências absurdas sofridas por quem não tem acúmulo de dinheiro. Porque eu não aceito ser desrespeitada por uma ordem que não educa, adestra. Que não convida, impõe. Que não abraça, sufoca. Que não pergunta, cala.
Eu não aceito ter que vomitar meu ódio em pessoas que sofre o mesmo descaso, só porque não tem com quem reclamar. Porque o "dono" nunca está presente. Ele paga alguém pra comer a merda! Eu não aceito que sejamos obrigados a comer esta merda porque se paga um dinheiro e então conseguimos comprar feijão pra pôr em casa. Pra alimentar, com sorte, futuros parafusos ou novos comedores de merda.
Eu não acho normal ver vidas jogadas a própria sorte numa floresta de concreto que envenena a comida que a terra dá. Eu não acho justo termos riquezas materiais imposta sobre a pobreza, a desgraça da humanidade.
Fingirmos ser o que? Se animal já soa vida inferior. O que pensamos ser?

Minha utopia em ver este sistema se engolir está estruturada pela palavra "ainda". É uma questão de tempo.
A utopia que o sistema alimenta para continuar devorando vidas, se sustenta com a palavra mágica: Deus.

Lembra que deus olha, culpa, pune, cuida
Aproxima a dor, a doença e a pobreza
Que bem vista aos olhos de deus, te compensa
Não pergunta, não luta, não resiste
Pois há no céu um senhor de barba que te assiste
Goza de tua dor, e com misericórdia
Te julgará após sua morte proclamando concórdia.








 

sábado, 29 de junho de 2013

Que seja bem vindo o caos

Medo de quê? Me pergunto dias depois de pensar em viver histórias que leio, de pessoas que admiro.
É sair na rua e trabalhar com pessoas, pela sociedade, para perceber que o medo já foi atropelado há muito tempo quando se encara o descaso. Quando se sobrevive aos escombros, o medo é no dia a dia, e não há tempo para que ele ganhe forças.
Meu medo foi engolido pela crença de que as coisas se mexeram, mudaram de lugar. Nada em seu devido lugar, mas há sinal de que o caos está vivo e ganhou corpo. E este caos precisa aparecer! Precisa incomodar aos que se sentem acomodados neste sistema inviável, desfuncional.

Teu cômodo conforta, mas o incomodado confronta.
Sem armas, sem destino, no sentido que esperança guia
Sem certo ou errado, quando se encara que sua fome é o certo social.
Se ninguém tem culpa, somos todos culpados.

Começa com um desvio de olhar, um atravessar
Uma grade, um alarme soa e cobre vozes,
Gritos e gemidos que a TV te explica.
Te confortando, aliviando, quase desculpando...

De olhos fechados e fone nos ouvidos,
Não há ainda o que tampe o nariz
Pois a desgraça da desigualdade tem cheiro
E empesteia tua feira, tua loja, teu caminho.

Mesmo sem querer incomodar, pois o normal já tem a pobreza
O crescente descaso gera massas que já pesam
Que desregulam esta gangorra suja e hipócrita
E quando quebrar, não terá distinção.
Estaremos todos no chão!


sexta-feira, 14 de junho de 2013

"Tem dias em que a gente se sente, como quem partiu ou morreu. (...) Ou foi o mundo então que cresceu?"

Ontem foi a primeira vez que senti medo. Medo da guerra quando entendida tão perto que se trata de vozes que clamam por justiça frente à uma parede estúpida de seres humanos manipulados e alienados, que não compreendem que esta batalha também é deles, pra eles, por eles. Massa de manobra, vítima do trabalhado alienante, a polícia agride de olhos fechados e coração acimentado. São como cães que vivem confinados, que passam fome, que sofrem agressões físicas e psicológicas e não entendem uma ação de carinho, de amor. Bater em pessoas que pedem o óbvio não faz o menor sentido! Quando eles deveriam estar nas ruas também, protestando contra seus baixos salários, a falta de acompanhamento psicológico, a falta de recursos materiais, a exposição à violência. Onde estavam contra o PCC em 2006, que mostrou quem realmente governa esta cidade? Não tinham a menor condição de guerrear contra os caras... Mas suas fardas viram a mão de deus contra estudantes, professores, índios, cidadãos! Cidadãos de cara limpa, armados de indignação e coragem.

Passei a noite em protestos e guerras. Minha cabeça não me permitiu descansar. Sonhei com bombas, fumaça, gritaria, sangue, escudos, flores, cimento, escuridão, buracos, medo. Acordei travada! Minha coluna, minha estrutura física foi abalada pelo choque psicológico. Perdi um dia de trabalho, com pessoas dispostas a compartilhar ferramentas de cura social e paz interna. Estou travada, perplexa, com dor, num buraco que do peito parece ter chegado ao outro lado. Dói quando respiro... Porque está difícil respirar com tanta fumaça, com tanta impunidade, com tanta vergonha! Minha estrutura não me traz segurança, está fragilizada, desestruturando...

Não se trata de uma semana de luta. Se trata de anos de injustiça e a primeira tentativa de respiro profundo e honesto depois que nos contaram que a ditadura militar havia acabado, em 1984. Se trata da primeira negação aos estúpidos bens material e o reconhecimento da falsa liberdade de escolha e expressão. Se trata do total entendimento social de que a democracia e seu significado tão expressivo nunca fez parte de nossa sociedade. Se trata de entender que a polícia é a mais grave classe trabalhadora afetada e manipulada por esta doença capital. Se trata de tirar da mídia o poder de informação, de comunicação pois vê-se agora, claramente, aos olhos de todos, quanta desinformação, mentira e despreparo formam esta classe de ego tão largo. Se trata da população entender seu força e assumi-lá. Que seja de consciência plena, pois seremos o buffet de grandes festas mundiais, e que nos lembremos que não há estrutura para tanta celebração. Não há animadores para estas festas, não há palhaços para entretenimentos vazios, não há mais espectadores de exploração, de riqueza esbanjada. Que não haja mais poderes fálicos engravatados estruturando nosso campo de ação. Que haja o povo, em plena ação de negação, de recomeço!

Parabéns aos moradores de São Paulo que abraçam a luta com suas participações individuais num coletivo que objetiva a integridade democrática.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Q.

Uma amiga me contava sobre os momentos em que perdera seus dois filhos e o marido. Dois assassinatos e uma morte em casa. A dor pesavam as lágrimas que não escorreram daqueles olhos vivos, escondidos pelo óculos embaçado, mas não devastou sua expressão em rugas, carregadas de vida e história, nem levou seu sorriso desacostumado daqueles lábios. Contou-me com uma força surpreendente sobre o filho assassinado a facadas na porta de casa, devido alguma briga com vizinhos. A indiferença da polícia em mais um caso na favela e a justiça torta da vida que levou o assassino ao encontro de sua própria morte quando tentou assaltar uma delegada. Contou-me sobre seu outro filho, que bebia muito e foi atropelado. Nenhum socorro ou sombra de justiça. Ele estava bêbado... Contou-me sobre o corpo morto do marido sobre o sofá, num mal súbito que não teve um nome que esclarecesse. Falávamos de murmúrios protestos que ninguém ouvia, ou ilustrava só mais um acontecimentos comum nas favelas de SP. Minha amiga falou tudo, com tanta força, para que pudéssemos apresentar mais um murmúrio de protesto cênico, concluindo uma etapa do nosso trabalho. Em uma semana, me preparei para encontra-la e revivia suas histórias, que de manhã, no ônibus, me violentaram o peito com muito mais agressividade do que nas palavras e nos olhos dela. Me refiz para encontrá-la, para trabalharmos com toda aquela honesta e desentendida indignação. Me refiz para juntar meu murmúrio ao dela, que vivia a indiferença e a dor da morte tão mais perto e tão mais forte. Minha amiga faltou ao trabalho, faltou no dia da apresentação pois seu outro filho fora assassinado na semana. Facadas e bebida! Meu abraço me aperta, me esmaga... meu abraço que é pra ela.
Nas ruas, nesta mesma semana, grande parte dos munícipes tomaram as ruas, motivados como gota d'água, pelo aumento abusivo das passagens do transporte público. Tomaram as ruas, enfrentaram o choque e são tratados como vândalos pela mídia que bebe das tristezas como as de minha amiga. Mídia que se alimenta da dor, da desgraça como o capitalismo se alimenta da desigualdade, da pobreza, da desinformação.
Frente a tudo, me questiono sobre o que é justiça. Como se faz ou se deixa fazer.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Graças ao Capital


Parabéns por ter vencido as lutas que te combatiam e ter fragmentado-as. Dissolver o inimigo, para que partículas consideradas hoje como "minorias" lutem pelas mesmas coisas com discursos diferentes, foi genial. Os que, de alguma forma, tentam mudar, precisam se focar em lutas que conseguistes isolar do todo.
Parabéns por conseguir escravos conscientes, que acreditam ser livres e ter poder de escolha. Parabéns por limitar o conceito de liberdade em posses materiais e viagens de fim de ano. Parabéns por ter conseguido com que todas as pessoas valorizem seu externo, seu visual, sua roupa, seu peso, seu cargo à tentativa de manter o caráter, a integridade, a ética e empatia frente à barbárie por você imposta.
Parabéns pela forma como naturalizou a desigualdade social e cultural, a violência. E como se alimenta disso! Como seus bens vencem o bem, como seus preços compram valores. Como fica fácil garantir a beleza ao redor! Seu afeto que afeta... fofo!
Parabéns pela felicidade da população presa na televisão. Da desgraça à alegria, tudo está em paz em frente à televisão!
Parabéns por ter conseguido que as pessoas se alimentem de produtos inventados, sintéticos, artificiais, afastando-as do trabalho da terra, do cultivar, plantar, sujar as mãos... Obrigada por manter distante dos nossos olhos os trabalhadores explorados que ainda atuam de joelhos sob o sol escaldante, por manter longe o que ainda resta de sofrimento mundano. Obrigada por camuflar a morte, o sangue e a dor das nossas comidas! Embalando-as em pacotes coloridos, mecanicamente manipulados para maior higiene. Obrigada por afastar nossa comida das mãos dos homens e dos insetos da terra. E obrigado pelo avanço da medicina que nos retalha para curar-nos dos males causados em conseqüência de tamanhos benefícios, substituindo órgãos, implantando ou reduzindo a carne que nos falta ou que nos sobra. Obrigada pela ausência da dor, da culpa, e o excesso da moral.
Parabéns por ter aliado-se à uma força superior, que nos julga do céu determinando nossos caminhos e escolhas, com segurança. Obrigada por isso, pois nos faz acreditar que tudo é como deveria ser. Que só Ele sabe e não nos cabe entender, só aceitar. Obrigada por tornar a pobreza tão próxima de Deus. Parabéns pela criação do Estado, que tende a estruturar nosso campo de ação, e que apesar de ser, de maneira muito justa, laica, não permite que falte a imagem de Cristo, loiro de olhos azuis, de nariz fino e lábios carnudos, nas paredes das escolas, dos hospitais e das salas de justiça.
Parabéns pela possibilidade da globalização, onde mesmo sem aceitarmos ou, se quer, entendermos a cultura alheia, criamos um mundo virtual para vivermos em paz. Onde todos podem ser famosos, bonitos, inteligentes expondo suas embalagens e competindo como num vasto supermercado humano. Parabéns por fazer com que as pessoas escolham viver com medo à acreditar em seu poder de mudança.  Parabéns por nos omitir o passado, e nos condicionar a uma produção em massa de pessoas, de produtos, de bens, de coisas. A propósito, parabéns por transformar Guevara em marca, Joana D’Arc em santa! Parabéns por ter deixado em datas comemorativas e feriados, a lembrança  de um passado a ser lembrado, hoje comercializado. 
Obrigada por calar nossas angústias e sofrimentos com a magia das drogas, legais e ilegais. E obrigada por eliminar com sabedoria os que não sabem utilizá-las e subvertem a ordem natural das coisas, dormindo nas ruas ou dançando pelado. Obrigada pela criação do inferno, e que estas pessoas possam se redimir e chegar aos reinos (monárquicos) do céu!
Parabéns pelos publicitários, que reduzem e simplificam nossa felicidade em pequenos produtos. Que compartilham com a pressa infantil, tornando adultos imaturos e ativos num mundo mágico de compras. Que passam a vida buscando pela felicidade nas prateleiras e nas vitrines. Obrigada por esconder das nossas crianças a feiúra do mundo e deixa-las sexys, bonitas e felizes com produtos modernos. 
Parabéns pela rápida contaminação das palavras, pela padronização da beleza, pela elitização da cultura, pela liberdade de expressão onde todos falam e poucos ouvem. Parabéns por conseguir manter a estrutura educacional do século XVIII ainda intocável! Parabéns por ter você, se disseminado de tal forma que as minorias que ainda tentam te destruir não sabem mais contra quem lutar! Genial separar as pessoas por sexo, cor, religião, emprego, cargo, condução. Genial transformar vidas em matéria prima, e matéria prima em matéria bruta descartável em poucos anos pela indústria da moda. Genial fazer-nos crer que somos livres em nossas escolhas, e que somos superiores às outras espécies, pois somos a imagem semelhante de Deus! Parabéns ao capitalismo por toda ordem, tradição e moral!
Com toda minha dor!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Põe seu cabresto porque a roda é gigante

Quero escrever às pessoas que se julgam de bem, honestas e direitas e que discursam bordões como "Bandido bom é bandido morto" ou "Direitos Humanos a humanos direitos" e outras concepções de cabresto.
Quero também esclarecer ao meu próprio discurso, que pobreza não está relacionado com criminalidade ou vice versa. E convido aos que sentirem-se contemplados de alguma forma, à um estudo profundo sobre nossa história. Historicidade humana, história das civilizações, colonizações e tudo que estrutura o que temos e o que somos hoje. Pois quando olhamos pra trás entendemos o presente, e estando presente de maneira consciente, podemos criar o futuro.

Tais discursos partem de pessoas que acreditam ser boas, do bem e livres. Gozam de empregos cujo salários lhes pagam carros, casas, consumo e diversão. Sentem-se violentados quando agredidos por outro, que com arma, violência psicológica ou física, lhe arrancam um produto que custou-lhe tão caro.
Não. Ninguém tem o direito de arrancar nada de ninguém. Ninguém tem o direito de agredir ninguém.
Vejo apelos referente a maioridade penal, àqueles jovens que são capazes de roubar, agredir, estuprar, matar, que devem ser tratados como um adulto delinquente que rouba, agride, estupra e mata.

Não é a pobreza material que leva alguém a cometer tamanhas barbáries. Vemos com tamanha constância a criminalidade invadir famílias nobres, de rendas gordas. Por dinheiro, por ciúme, por desespero...

Não sei, não posso saber, não me cabe saber os motivos que levam alguém a cometer tanta violência para com o próximo. Mas sei que isso, toda esta barbaridade não se trata de fato isolado, de fato único. E me faz pensar se há a algo que não permita a formação íntegra das pessoas que as cometem. Quantas pessoas, nascem de fato, com tamanha perversidade? Quantas foram ou são crianças malignas, que torturam animais, que provocam brigas e desavenças? Penso que em algum momento da vida isto é brotado no ser.

Impossível avaliar casos de pessoas que não conheço. Amplio então, meu olhar a uma sociedade que exige e impõe regras bruscas e que, se não seguidas, as consequências são piores. Somos adestrados a termos comportamentos semelhantes. Estudamos para entrar numa roda gigante que de tão grande, não nos permite ver quem a controla. E não se pode descer, exceto se arriscar pular. Mas há tanta gente nesta roda gigante! Uns sentados, tranquilos. Outros tentando sentar, se capacitando. Outros pendurados nas grades, também tentando sentar. Mas há aqueles que nem sabem porque estão lá! Por que rodam rodam, sem sair do lugar? Por que não se pode escolher outro brinquedo? Por que não se pode rodar no chão? Por que esta roda, acelera e não pára para que as pessoas que não querem brincar, saiam e dê espaço aos que creem nesta roda? E nem aos que aceitam estar na grade, nos ferro, podem se adaptar por lá! Não pode!! Atrapalha o rodar!

As cadeiras não estão aqui como conforto material, mas de conforto mental e tranquilidade de vida. Numa roda onde todos querem e deveriam poder gozar da mesma tranquilidade. Sem risco de cair.
Na sociedade, me refiro às pessoas que não se adaptam às regras impostas, se perdem num buraco fundo nelas mesmas, cavado cada vez mais por aqueles que, confortáveis, se incomodam com as perguntas. Os confortáveis têm medo da mudança, então optam por tirar de suas vistas as dúvidas e as ausências de respostas que podem provocar tamanha indignação aos outros que equilibram a roda. Deixam tudo como está e retiram de alguma forma, de qualquer forma, aqueles que não se adaptam. Mesmo que os joguem lá do alto! E tudo ainda vem com cobrança: "Por que não se adapta? É vagabundo? Luta pela tua cadeira!!" Se orgulha: "Eu trepei ferro a ferro até chegar aqui!" Fica, aos que se cavam, a dúvida do tempo que se perde, das escolham que se faz, o medo de não conseguir, o desespero por não ser. Por não fazer parte.
Não há espaço aos que precisam se entender, se buscar, para refletir se quer rodar! Somos obrigados a rodar! Somos obrigados a lutar por uma cadeira, para que possamos envelhecer sentados e em segurança. E nos cabe defender esta cadeira aos nossos próximos, e pra isso fechar os olhos aos que não aguentam mais trepar em ferro. Fechar os ouvidos para as perguntas de quem têm dúvida e para os gritos dos que caem. Cruzar os braços para não pôr um estranho em seu espaço. Deveriam ao menos, fechar também a boca! Para que engulam suas omissões, seus preços e não cobrem do outro aquilo que se quer brota no seu peito.

É um ato de desespero pedir para matar àquele que afetou tua integridade.
Falta atos de compaixão para entender se a integridade do outro não fora afetada para que ele chegue ao ponto de querer-te morto.
Falta empatia para entender porque um objeto, hoje, vale mais que uma vida. E vale mais que a vida de quem morre, e mais que a vida de quem mata.
Falta senso para perceber que, se outro está doente, você nunca terá paz. Pois dividimos o mesmo espaço, o mesmo ar, a mesma água...

Se criou objetivos de vida que não são verdadeiros nas vidas de todos.
Se criou a obrigatoriedade de aceitá-los. A consequência de nos permitir questionar, entender.
Não temos escolhas, e aos que se perdem entre a dúvida do que ser, numa sociedade que ninguém é, cabe a exclusão para não atrapalhar aqueles que aceitam ser o que tanto trabalha para ter.

Falta ser humano ao bicho homem.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Crônica Irônica

"De súbito, ela caiu. Se apoiava cansada sobre a pia da cozinha, depois de chorar por um dia inteiro uma tristeza que não a pertencia, que apenas lhe invadiu e se instalou no peito. Seu olhar havia levado seus pensamentos em uma estrada estreita e brumosa, onde não se via mais nada na imensidão do branco. Não se ouvia mais nada... E num súbito, ela caiu! Caiu em prantos, com uma dor insuportável, que tentava arrancar às unhas, cavocando o próprio peito, abrindo fissuras na própria garganta. Seus olhos inchados já não suportavam mais tamanha produção lacrimal. E chorou! Chorou aos berros, aqueles cujo arranhar nas pregas vocais se faz com o resto de ar que há entre os órgãos, que apoia as vísceras. Sua avó, com seus oitenta e seis anos, mal sabia o que fazer. Mal suportava nos braços o peso da neta. Foi violentada pelo choro, envergonhando a menina que sofria sem argumentos.Como entender que a dor é do outro? Como explicar que tamanha tristeza não te pertence? Seu choro cessou ao abraço forçado da avó e seu corpo inóspito esparramou apoiando sobre as pedras geladas fixas no chão da cozinha. Seus olhos perdiam-se na busca de alguma razão. O ar não transitava em seu corpo. Não saía. Não entrava. Sem ar não há voz. Sentiu-se pela primeira vez imbuída de silêncio. Mas sua voz gritava num vácuo imposto. Que dor sufocava seu centro. Que grito amarrado e condenado à pressão silenciosa do ar se debatia em seu centro. Em alguns minutos, a menina levantou e foi tomar banho, deixando a velha de olhos arregalados, sentada sem jeito no chão. Com custo, a velha chegou ao telefone e buscou chamar sua filha, mãe da menina, morta há sete anos. Sem domínio do moderno aparelho, sem domínio de suas emoções, sem domínio do presente...
Nada como a força da água para lavar a alma e incentivar águas paradas. A menina chora. Chora agora o choro que é seu, nascido da incompreensão de uma dor avassaladora que lhe calou a gratidão e lhe embranqueceu as cores da vida."

quinta-feira, 14 de março de 2013

Só transforma quem quer

Sopra ao sangue suga cego
sempre só, que seja sozinho.
Supera ao silêncio tardio
tratando de travar trevas e tretas aos
Tatus bolas bolando balaios e babados
Bancando bêbados sem culpa
Caretas, carentes, consumo e gula.
Grudam, giram gomas, gelatinas
Geleias sintéticas, sintetizam
sentimentos superados
pela urgência supra em sermos algo além de nós mesmos.

Embalagens bonitas, belas bostas
Corpos ocos copos ocres
Cucas carecas por dentro tão pobres
Palavras pomposas, posturas, poderes, papaias
Patadas dos podres poderes presos pela ganância
gritante e grudante de grana.
Garantia de emprego emprega prego que não pensa no alcance do trabalho.
Trabalho treta de trazer transformações totais, transcendentais, transexuais, terrenas e sociais.
Sozinhos sonhamos sem saber que sonhos sozinhos não transformam ninguém.

Então voa ao vento ave risonha
Que em teu bando encontra a solidão.
Deixa distante dores medonhas
Vaza as nuvens, aos meus olhos, feitas de algodão
Rebenta rédea, fura a firma firme feito furão
E alcança a fumaça bruma que impede a visão.
Porque a liberdade não cabe na palma da mão.    

quarta-feira, 13 de março de 2013

Falta a ausência da ansiedade em tudo que me formei.

Não me pergunte por que eu choro
Porque eu não sei porque a paciência se afastou de mim
Não sei onde se escondeu a calma dos primeiros passos

Sei que corri em uma direção e cheguei num mundo de palavras ricas, de significados provocativos
E me percebo turista, mas não quero sair. As palavras insistem por entendimentos e fico por lá,
me perdendo entre significados. Ah, quanto peso que faz sentir-me leve!
Quanta facilidade de expor a ferida sem escancarar a carne.
Quanta simplicidade ao expor a carne em pedaços, morta, com crença de vida. Está por todos os lados.

Claro que não quero voltar! Claro que temo às palavras ocas que decoram espaços empoeirados
Como é difícil à minha prepotência reconhecer-me no açougue. Não pertenço (ainda) a este lugar...
E em cada dança com os textos, me embriago acreditando que posso fingir morar aqui.
Logo a realidade me tomba, com o peso da gravidade.

E de fato, entre o real, ainda são todos pedaços. Pedaços que sobraram e se debatem com tanta força e privação, que não me soam atraentes. Mas suas escritas, seus domínios...! Que produção!

Reconheço-me tão perdida, e tão distante no meu próprio caminho.
Que de vagar, sigo de olhos fechados. E quando sinto uma mão, me permito chorar.
A confiança no outro, faz a minha respirar.
Falta a ausência da ansiedade em tudo que me formei.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Que minha indignação possas ser o combustível do meu Amor, nunca do meu ódio.

Que vergonha me arrebata quando eu esqueço, por um segundo, a beleza de se fazer o Bem.
Que vergonha quando permito que minha indignação me derrube, me impossibilitando de fazer o Bem.
Que vergonha quando as opiniões mesquinhas, cegas e egoístas me paralisam diante de fazer o Bem.
Quer vergonha sinto, ao ver o Bem, que todos estes os sentimentos egoístas e cegos me invadiram, me enfraqueceram, me derrubaram. Pois existem em mim.
Que vergonha me desviar do meu caminho por desacreditar no caminho do outro.

Acredito no Bem, no Amor e me perco quando julgo que as pessoas estão perdidas.
Julgamentos nos atrasam.
Vou permitir que as pessoas se afastem. Me permitir afastar.
Ceder-me ao desconhecido.

Que possas estrar sempre próximo do Bem. O Bem íntegro, sem hipocrisia.
Que possas ter força para afastar os que fingem o Bem
Que possas ter coragem de negar aos que trabalham excepcionalmente e só pelo próprio Bem.
Que minha indignação possas ser o combustível do meu Amor, nunca do meu ódio.
Que minhas dificuldades possam me transformar mais forte!

Assim seja!



quarta-feira, 6 de março de 2013

Quarta feira, três mortes

Nesta semana foram divulgadas as seguintes mortes: de um índio na Venezuela, que em luta pela preservação das terras frente aos interesses econômicos, foi assassinado numa emboscada, assim como seu pai que lutava pela mesma causa: A preservação das terras indígenas.
Do presidente Hugo Chávez que, tido como ditador comunista, buscou preservar as riquezas nacionais em nome do desenvolvimento interno, virando as costas ao que considero uma ditadura consumista ditada pelos norte americanos e acatada pela grande maioria das nações.
E do cantor, agora considerado poeta, Chorão. Vocalista de uma banda pop que fez a música da Malhação, programa interminável da rede globo.

Tenho visto mais frases do Chorão do que qualquer outra relacionada às questões políticas e sociais dos outros dois mortos. Numa cultura onde o entretenimento é mais valioso do que a política, as pessoas tendem a trabalhar pelo bem estar pessoal e não pelo desenvolvimento social.
As coisas se encaixam na minha cabeça! A procura por profissões rendáveis frente à busca em atuar com aquilo que se ama, onde o trabalho é voltado para o coletivo fica claro quando a preocupação está mais no bem estar do que no estar bem. Bem estar é momento, é individual. Estar bem é inserção, coletividade, contínuo.
Meus amigos virtuais se comovem mais com a morte de um cantor pop que não me diz nada, do que com a morte e assassinato de pessoas que viveram e trabalharam pela sociedade.O dinheiro é o fator chave disso tudo! Chávez incomodou por fatores econômicos, este índio foi assassinado por interesses econômicos e o Chorão nada tem a ver com a economia!

A tão falada e revoltante política do "Pão e Circo" continua com status de democracia. Você pode "escolher" seu trabalho. "Escolher" o que (dá) pra comer. "Escolher" seu entretenimento. Suas escolhas geram consequências.. Então não é culpa de ninguém se você escolhe ser professor, que todos sabem que ganha mal, que não tem retorno fácil, nem qualquer estrutura profissional. O "BUM" do momento é o petróleo brasileiro. Você pode escolher ser bioquímico, e estar inserido no mercado, ganhando bem.
Você pode escolher se alimentar de orgânicos, mas você precisa ganhar bem porque usar menos pesticida faz do produto mais caro do que o contaminado. Ou você pode tentar plantar, numa cidade cinza, de asfalto que sufoca a terra e ar que sufoca a planta. Daí você pode escolher não ter carro! Pega a bike e torce para que o motorista do ônibus esteja num bom dia e não te odeie por atrasar o trânsito. Mesmo que ele ganhe mal, more mal, durma mal... Ninguém tem culpa! É a escolha que faz parte da democracia!

DEMOCRACIA: Governo do povo; soberania popular; democratismo. 2-Doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder.”

Está aí então... Os princípios do povo!


Ditadores Comunistas Maus!

Ditadores aqueles que preservam riquezas nacionais para que seus frutos sejam daquele povo.
Ditadores aqueles que preservam a comunicação limitada aos valores morais e de senso social.
Ditadores aqueles que colocam pessoas a frente de empresas.
Ditadores maus! Que alfabetizam toda uma população e compartilham a consciência que a liberdade de consumo é uma utopia.
Ditadores que fecham as portas para corporações globais e tentam reestabelecer os negócios locais.
Ditadores maus! Que calam a boca de quem vende a alma por dinheiro. Que fecham as portas à quem compra tudo a qualquer custo.
Ditadores maus tentam preservar valores que já ganharam preços.
Ah! Malditos sejam esse comunistas! Que tentam travar a todo custo o direito de alguns deterem o poder. Que tentam acabar com a exploração de trabalhos escravos tão bem rotulados de democracia. Que acham justo andar livremente entre as pessoas, sem qualquer segurança ou arma de fogo. Comunistas maus e feios! Que privam as pessoas ao acesso livre a internet, um veículo de comunicação global tão útil para inutilizar milhares de pessoas que ficam presas em frente suas telas, felizes e revoltadas, sempre manifestando opiniões tão ricas e embasadas! Que vergonha privar a população de se comunicar com o mundo antes que se organize a comunicação interna e social.
Invadamos estes pobres países pobres que não consomem McDonalds e tênis Nike. Pobres países pobres cujos presidentes ditadores preferem oferecer-lhes condições de vida digna à ser livre para escolher entre a pobreza ou a venda da alma. Invadamos com nossa tecnologia de ponta para mostrar-lhe a beleza da comunicação global como num comercial de margarina. Mostremos nossos blogs revoltosos, com textos mal escritos e sem fundamentos, exibindo a beleza da liberdade de expressão de um povo sedento de informações. A liberdade de se falar o que pensa e ignorar o outro, que pensa errado. A liberdade de imprensa que discute a "ética na tortura" numa página de jornal de domingo. A liberdade de expressão de um povo que vai as ruas exigindo ética política, honestidade com dinheiro público e não faz a maior diferença, exceto atrapalhar o caminho daqueles com compromisso pela cidade.
Que vergonha estes políticos livre entre a população! Que vergonha privar o mundo de usar seu petróleo, sua terra, sua água, seu povo para o desenvolvimento global das Américas.
Ditadores comunistas maus!

A liberdade de expressão é a característica da democracia. Todo mundo fala, ninguém ouve! Todo mundo escreve, ninguém lê. Então a gente capricha no visual, pra chamar a atenção daqueles que nos interessam. Mas o visual ideal muda a toda hora... Tenho que estar antenada às tendências!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Com um pouco de coragem, silêncio não é omissão.

Há uma luz que conforta, aquece, queima, arde, arranca, rasga, expõe...
Aquilo que te faz amar, quando te faz engolir desrespeito, te faz questionar.
Questionar a si mesmo, o que se ama, o que se aceita...
"A paz que eu não quero para ser feliz" é aceitar por convívio social ou consideração, falas e comportamento que julgo o atraso da revolução mental, e consequentemente social, do ser humano.
O egoísmo, a ganância, o ódio, a intolerância.
Penso e repenso meus defeitos e sombras quando lembro quanto amor cultivo àqueles que agem de forma, ao meu ver, errada. Ao meu ponto de vista, posso lembrar de aceitar o tempo, as referências, a semiótica de cada um. Mas ao me sentir desrespeitada, ameaçada, confrontada, não cabe mais ao tempo do outro minha calma e paciência. Cabe ao meu questionamento quais são os valores que posso manter, melhorar e cultivar em mim daqui por diante.
Há algum tempo fingi não ouvir comentários racistas, reacionários, preconceituosos por virem daqueles que eu amava, daqueles que me recebiam. Hoje entendo que a barbárie se planta aí. Nestas palavras do próximo e no meu silêncio. Na minha presença omissa no cultivo do ódio, onde minhas lágrimas de indignação alimentam a distância da paz. E que o amor morre na mesma condição, quando o que se um dia admirou se dissolve em atos mesclados de familiaridade.
Se o amor prevalece, trabalhamos juntos na transformação de ambos. Mas não é possível transformar sozinho.
Não da pra deixar de amar com a mesma intensidade e velocidade que uma surpresa indigna, mas é possível sentir, quando passou, que um pouquinho de amor acabou. Vazando com o que um dia nasceu da admiração, da cumplicidade, da humildade, da troca... quando tudo evapora, percebe-se o amor tão isolado, em partículas tão pequenas, que qualquer vento o faz perder o sentido. É uma morte dupla!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O silêncio do carnaval, as cores que ficaram, as máscaras que voltam

A cidade voltou a respirar seus ritmos frenéticos. Sua pulsação de construção, a indiferença de seu cinza...
A alegria em acordar, o sorriso ao olhar o próximo, a simpatia, paciência e euforia foram guardadas com a fantasia. Voltamos ao olhares de tédio entre filas de carros, rostos perdidos no trânsito de pessoas que buscam por conforto em meio ao que desconforta.

Foram dias em que árvores em V, estupradas pelos fios, me soaram mais verdes.
A força de suas raízes que empurram o concreto, lutando pela liberdade natural de Ser... Liberdade que lhes fora privada. Que fé e força há nestas árvores urbanas, que acariciam meus cabelos quando sorriu ao céu... É uma das mãos de Cernunnos, que abençoa àqueles que ainda sorriem ao seu lar, ao seu corpo. Toco seu tronco me permitindo que a firmeza de sustentação abençoe a minha gana de usufruir da força da gravidade, para manter-me pra cima, entregue ao vento.

Acabaram as marchinhas, o brilho, o amor sem limites
Fica a ressaca e o tédio do normal, à tudo que volta a ser como era...
Uma transformação fictícia, de fantasia postiça, que não têm força para esconder a armadura há tempos fundida, enraizada...  como concreto que priva as as raízes de respirar a terra.

Sigo meu carnaval, que cessou por alguns dias, quando outros quiseram pular
Sigo pulando e cantando, jogando purpurina em caminhos abafados
Sigo me montando todos os dias, recebendo risos quebrados, de ofensas ou de beleza
Sigo acreditando na música que a natureza me canta todos os dias, destacando-se do barulho confuso que o homem faz.
Sigo sorrindo aos estranhos, acenando aos irritados, lutando como às arvores que querem manter-se seguras e livres em seus próprios lugares. Acariciando cabelos, permitindo toques, trocando amores pulverizados em olhares distantes... nos olhar longínquos de suas próprias raízes, que estranham suas próprias vontades.

Aqui, só começou de novo!!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

dilui-se

Há algo pesado no ar
Com uma necessidade gritante de se dissolver
Deixar dissipar e em seus pedaços se perder
Sem o tédio do ridículo medo de sofrer

Há de se deixar pesar
Aquilo que é meu e devo carregar
Diluo no álcool partículas isoladas
Isolando o que não se pode (ainda) transformar

Me assola outras dores
afim de inferiorizar meus pavores
Me bate na cara a ironia
De ter criado meus próprios horrores

Acomodada, dou colo a mim mesma
Sofrendo de solidão inventada,
Clamando por situações criadas...

Entre meu direito de bagunçar o meu eu
E pedir ao externo que me acompanhe...
Isolo a festa cega entre pão e champanhe

...






segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

No Inferno Astral

A doce sensação de se permitir àquele leve depressão quase cênica, que condensa o tempo e o espaço. Que permite à delícia de uma dor quase escolhida, o peso das lágrimas alcançadas.

O céu se divide entre o azul mais vivo que meus olhos alcançaram e o cinza úmido mais cabível ao momento buscado.
O vento coreografa as folhas que as árvores se desfizeram e permite-me como espectadora de um dos mais belos espetáculos de dança, que alcança o tato, o olfato, a audição... quase num convite ao tempo para que deixe de ser linear.

E neste envolvente espiral me reencontro comigo mudada, num tempo que passa e me retorna presentes.
Na delícia de repensar no que foi vivido em 29 anos, avaliar o que construí dentro e fora de mim, não há necessidade de fuga frente ao aperto que começa de dentro, no centro.

A doce depressão quase cênica, com trilha sonora adequada, vozes rachadas... chuva, livro e filme que embargam a ânsia de uma alegria infantil, adiando e preparando novos conteúdos e estruturas que construam  uma nova felicidade.

Me permiti, antes de gozar do inferno, vomitar palavras sem nexo, sem a beleza da prolixidade ou das doces confusões metafóricas. Há textos que transmitem minha perdição num tempo sem controle até que cesse em mim o desejo de boiar na areia movediça, que envolve, abraça, conforta...

A doce sensação de depressão quase cênica do meu inferno astral.
Acredito quando faço acontecer. Me delicio quando perco controle do tempo que me joga de volta pra mim...

Eu vou voltar. Mudada, mas sem deixar de ser eu em busca de mim.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Acordei gorda!

Sabe quando a gente cede para as futilidades?
Acordei depressiva em pôr qualquer roupa para sair na rua. Acordei de mal com o espelho, lamentando minha barriga, minha bunda, minhas pernas...

A estupidez deste padrão de beleza é tão grande quanto sua força.
Permitimos olhar-nos e lamentar nosso corpo, quando deveríamos ter gratidão, por termos plena capacidade física e mental, para realizarmos tudo aquilo que realizamos no dia a dia.

Vejo crianças tão pequenas sofrendo por não atenderem um padrão imposto de beleza.
Por não serem magras, loiras, altas... Meninas de 15, 16 anos que sonham em fazer plásticas para alterar seu corpo, pois não são perfeitos. (??)
O imediatismo exige rótulos bonitos para que sejamos bem aceitos.
Falta-nos criar tempo para criarmos pessoas dentro destes rótulos.

Como a roupa que visto ou o tamanho da minha barriga pode incomodar ou impactar mais do que aquilo que falo ou faço?
As pessoas vêem mais fotos no facebook do que leem os blogs!
Nós construímos este valor e nos prendemos à ele, nos engrunhando num nó de depressão, solidão e  insatisfação. E deixamos que nossos pesos nos importem mais do que situações sociais inaceitáveis.

Nos limitamos a aparições externas. Viramos produtos de uma sociedade fruto farto da revolução industrial. Somo educados por marketeiros, cujo formato da embalagem e o rótulo deve desviar a atenção do conteúdo. Às embalagens feias não têm demanda!
Concorremos com a gente mesmo numa guerra fútil para uma beleza externa, e deixamo-nos cada vez mais vazios...
Vejo preocupações alimentícias focadas nas calorias, não nos nomes estranhos que mal identificamos, ou na origem e processo daquilo que chamamos de alimento.

Esta escolha por rótulos, escolha por sermos rótulos, contribui para outros comportamento ocos, como escolher um cachorro pela raça. Passamos a ser controlados pelo gosto imposto. Não temos mais certeza se gostamos do que gostamos, ou se gostamos para que os outros gostem da gente. Nos deparamos então, com uma sociedade farta de pessoas que agem previsivelmente, se afastando de si mesmo para poder se querida por outros que mal se conhecem.
Nosso comportamento social pode ser limitado ao Facebook. Um mundo de aparências, onde todos leem Nietchszie, todos amam animais, todos são belos e bonitos. Mas esta propaganda de margarina acaba assim que falta luz. No escuro, podemos nos mostrar monstros egoístas, que roubam e depredam, ações que gritam aquilo que a gente esconde.

Que difícil é encarar o mundo para aceitar ser você.
Pois escolho que minha embalagem será transparente, com rótulos diversos que as vezes vão agradar, outras não. Que as vezes vão enganar sobre o conteúdo. Que as vezes vão afastar, e outras, criar demanda.
Escolho ser mais fiel e exigente no que me preenche, no que me recheia.

Num mundo, como um grande mercado, produto sem rótulo não vende.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Ausência da religião e a imensidão da fé

Não, não tenho religião.
Não achei nenhum templo que louvasse o valores que cultivo
Não achei nenhum padre, bispo ou sacerdote que respeitasse a vida como eu julgo.
Não achei nenhum espaço que acolhesse quem realmente necessita e pessoas que dissessem "Não" ao dinheiro, entre escolhas maiores.

Não creio em deuses vingativos, homofóbicos, sexistas ou sanguinários.
Não me fez bem acreditar num velho julgador me olhando por cima, me apontando o dedo por ser feliz comigo mesma.
Não me guiam palavras invocadas por exploradores.
Não me acertam invocações de respostas imediatas, sem o caminho árduo do autoconhecimento, da empatia e da paciência.
Não creio na superioridade humana, não creio que consiga comprar em espaço no céu e não creio que posso bancar igrejas se mal consigo manter minha casa, contas e família.
Não posso entrar feliz num palácio que fecha as portas à quem tem fome e frio.

Acredito que as pessoas estão aqui para crescimento pessoal.
Acredito que os outros animais nos ensinam com olhar, comportamento e lealdade.
Acredito que o desafio é viver neste mundo de matéria criada, de vidas compradas, de dores esquecidas
sem perder o amor que vem de dentro. Pois quando brota o amor por si mesmo, você se percebe atrelado, como numa rede invisível, à todos os seres que compartilham desta terra. E cada nó desta rede afeta seu desenvolvimento, logo não é possível uma evolução plena e íntegra. Passa a ser sua responsabilidade o bem estar do próximo. Passa a te afetar as dores e as escolhas do outro.

Acredito que a vida é muito mais simples do que esta inventada pelo homem.
Sou invadida diariamente por forças extremas de vida que me tocam por meio das folhas, do vento, da água, do calor do sol... E há em mim um sentimento de gratidão que não há o que retribua, exceto ser uma pessoa melhor à este mundo que me acolhe.

Não tenho religião. Tenho algo muito maior ao fazer parte deste universo todo.
Meus Deuses não me ameaçam, não me julgam, não me condenam, não me cobram...
Meus Deuses me acolhem, me alimentam, me sustentam, me mostram...
Meus Deuses dançam e bebem. Porque ser feliz não é pecado!

Pecado é deixar-se guiar por aqueles não se importam com sua vida!
Pecado é deixar de amar por medo de sofrer
Pecado é querer comprar a garantia de ser feliz no futuro.
Pecado é não abrir seu presente.
Pecado é não viver aqui da melhor maneira que você acredita para ser feliz.
Pecado é não se ouvir, não se tocar, não se conhecer
Pecado é não sentir, é ignorar o que te pulsa. É dizer que não sabe dançar...
Não saber dançar é como não saber dormir!
Pecado é não VIVER!!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vomitada Verde e Amarelo

"Em menos de sete horas, mais de 10 mil pessoas se cadastraram no programa Brasil Voluntário"

Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/em-apenas-sete-horas-mais-de-10-mil-pessoas-se-cadastraram-no-brasil-voluntario

O que há de errado comigo para uma notícia como esta me irritar tanto? Por que assistir campanha do governo solicitando trabalhadores para prestar serviços, de forma voluntária, para a Copa, me deixa tão perplexa??
Por que, há quase dois meses, eu aguardo formação de grupo (12 pessoas) para um curso de Alfabetização para Jovens e Adultos, de graça no Instituto Paulo Freire, e não há educadores interessados??
Por que a África morre de fome e doenças erradicadas desde que eu nasci e uma fortuna é investida em entretenimento barato e vulgar?
Como, da Copa no Brasil eu cheguei na África faminta??

Itaquera, uma das regiões periféricas mais pobres da cidade, foi escolhida para a abertura da Copa, na casa do time que carrega a maior torcida de SP ou do Brasil, sei lá (acho que perde em números para o Flamengo). Há então, um investimento significativo na região e desapropriação de milhares de famílias... Escolhem, no Rio, o Museu do Índio para um ótimo e amplo estacionamento. Quem liga?? Índio vai virar lenda para as próximas gerações. Enquanto desenrola toda uma estrutura para a Copa, nossas matas e índios nativos são devastados por outros interesses econômicos. Milhares de abaixo assinados vêm parar na minha caixa de email... adianta?? Mesmo??

Enquanto isso, a população brasileira morre afogada nas chuvas que, sempre, sempre é maior do que o previsto, todo ano!! Subgrupos se acumulam nas praças ou nos eventos on line para gritarem contra outro aumento da passagem de ônibus ou contra políticos acusados adquirirem novos cargos públicos ou contra a imprensa de manipula a cabeça das pessoas. Veículos criticados são líderes de consumo!! (Claro... estes mesmos cidadãos, consumidores, leitores e espectadores, que devem se candidatar a trabalhar de graça para um governo vagabundo numa copa sem nenhum cabimento moral!)
Os que protestam de alguma forma, são jovens, filhos da ditadura que tentam fazer a diferença sem saber como... Não sabemos como chegar onde queremos chegar. Não temos um inimigo à combater... temos partículas do mal em todo o ar. Lutamos contra quem? Contra o que?? Contra o capitalismo soa tão utópico, quase juvenil...

Vou chegar na África...
Vender tudo e largar a família para ir ao outro lado do globo assistir à um jogo de futebol, é traduzido como amor, loucura, paixão... bons adjetivos! Largar tudo e tentar ajudar uma alma que seja na África ou nas comunidades ribeirinhas brasileiras, sem qualquer subsídio do governo é insanidade, viagem, loucura em contextos negativos. Não ter emprego fixo é arriscar muito... nossa! Que loucura! Se arrastar todos os dias para algo que não é natural, quissá saudável, em um ambiente hostil e competitivo é a ordem. Loucura é sair de casa e virar andarilho, sem ter garantias do que comer, do que vestir, onde dormir... É supernormal trocar os dias, vender a vida em parcelas que garantam um bom restaurante, uma cama quente e roupas de marca... Não crítico a loucura, gosto e valores de cada um. Mas lembremos que nossas escolham geram consequências que envolvem outras pessoas.

Estes 10 mil voluntários certamente reclamam de um governo sedento e injusto atuante no Brasil. Pagam, por ano, quatro meses de trabalho, direto nas mãos do governo. Mesmo assim se voluntariam para servir turistas na copa... Lembro quando o Bush filho veio visitar o Brasil e um grande tapume fora levantado diante as favelas, para que a pobreza não fosse vista.

A verdade é que um grande tapume fora levantado nas extremidades de nossos olhos. Não conseguimos enxergar a África... Não conseguimos mais nos chocar com a violência da polícia invadindo barracos e expulsando pessoas de lá... Já aceitamos viver em barracos, ao lado de córregos imundos. Já aceitamos ter que pagar por tudo que nos é de direito constitucional (saúde, educação, moradia e alimentação). Já aceitamos pegar três caras conduções por um emprego qualquer que pague ao governo o que ele nos deve!
Aceitamos tudo sorrindo, sambando, bebendo... E agora, por que não? Sejamos voluntário em um evento que movimenta milhões de reais para o entretenimento gringo, burguês!

Preciso de 10 pessoas interessadas em aprender a alfabetizar adultos, para fechar um grupo. De graça!! No Instituto Paulo Freire!!! Sabem quem foi Paulo Freire???

A África não me passa!! Não consigo entender, aceitar... Vivemos numa educação que acatou aos Holocausto! Acata até hoje...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Movimentos e palavras anexos

Não há nada como a possibilidade de se acessar. Vasculhar no cérebro e no coração pesos e culpas, sonhos e lutas, risos e choros que me trouxeram e me fazem o que sou, onde estou.
A delícia em abrir o presente e lembrar que são frutos que plantei no passado. Tem exatamente o gosto que semeei. Reencontrar momentos...

A certeza de que minha verdade não é loucura, estrutura meus próximos passos para objetivos que deixarão de ser sonhos. Alimenta a confiança em algo maior que só cabe na infinitude da vida daqueles que aprendem a viver na eterna e diária batalha de negar a ficção física e os papeis que geram mortes. Papeis que geram mortes, que surgem a partir de árvores que simbolizam a vida. Que crescem pra cima, desafiando a gravidade. Que se alimentam da terra permitindo seus galhos que sonhem com céu. Buscam as nuvens carregando folhas, frutos e aves, mantendo-se firme frente ao tempo que não anseia.

Que delícia poder sentir o tempo passar por entre os poros e os pensamentos.
Que delícia permitir meu corpo de suar ao som do batuque baiano, dobrar os dedos dos pés sobre a terra e sentir as gotas que escorrem na franja que me cega. De olhos fechados, a música troca com a água que produzo. Uma entra, enquanto a outra sai.
Que delícia sentir a força das minhas pernas concentradas nos movimentos sem nexo que dialoga com a ruptura do silêncio. O silêncio que habitava em mim. O silêncio acumulado de palavras que não saiam e expulsei pela exaustão física.

Não escrever me entope. A ausência das palavras e suas junções que consigam expressar o que me invade, de dentro pra fora ou ao contrário, me entope de vazio o que ameaça explodir a qualquer momento. Por isso danço! Vazam palavras sem nexo, frases sem coerência... se explodir, não terei mais controle do que sai. Eis, mais uma vez, beirando minha estrada, a beleza da loucura. Por isso, danço! Onde a verdade que vaza não mais precisa fazer sentido àqueles que se esforçam a adaptação inquestionável da vida aqui.  Busco o equilíbrio de ser o que me transformo sem afetar os que me cercam... não acho um equilíbrio sadio, pois muito do que vaga sem resposta em mim, busca uma saída rápida e segura para que o outro não questione, o que deveria, mas não sei, responder. Por que deveria?? 

Tentar entender tudo que se sente é utópico. Por isso, eu danço!